Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
“Deus é rico em misericórdia” (Ef 2,4)
Leituras: Josué 5, 9-12; Salmo 33 (34);
Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios 5, 17-21; Lucas 15, 1-3.11-32.
COR
LITÚRGICA: ROXA
Animador: Nesta Eucaristia, Deus nos abriga em seus braços como
filhos transviados que somos. “Como filhos mais velhos” continuamos recebendo
seu convite para vencer a inveja e participar da alegria da reconciliação. O
sonho de Deus é que sejamos misericordiosos como ele é misericordioso, ou como
diz o Papa Francisco em sua Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da
Misericórdia: Misericordiae Vultus, “Misericordiosos como o Pai” (nº 13). Somos
convidados a entrar no banquete do seu amor, a deixar nosso coração se alegrar
com a música da festa, com as coisas boas que acontecem, e aí encontrar motivos
para bendizer a Deus.
1. Situando-nos
Na caminhada rumo à Páscoa, atingimos o quarto estagio de nosso
grande retiro. À medida que os dias passam, e as festas pascais se aproximam,
aumenta nossa alegria. “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais,
vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas
consolações”.
O Senhor nos acolhe e convida a tomarmos parte no banquete do
seu amor misericordioso, deixar o nosso coração transbordar de alegria com a
música da festa, com as coisas boas que aconteceram na convivência com as
pessoas e a buscar no interior de nossa vida motivos para bendizer ao Senhor.
Neste quarto domingo da Quaresma ressoa o convite de
participarmos na alegria do Pai, que agora, por meio de Jesus Cristo, acolhe e
salva os pecadores. O amor e a bondade de Deus libertam as pessoas de suas
misérias, da solidão e do desespero.
Para que isto aconteça, se faz necessário entrar na lógica do
amor e da bondade do Pai que se revelam em Jesus. “Misericórdia: é o ato último
e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei
fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o
irmão que encontra no caminho da vida” (MV, n.2).
A liturgia, deste domingo, convida-nos a experimentar a alegria
da Páscoa que se aproxima, porque já não há mais lugar para tristezas, pois o
amor misericordioso do Pai por nós, seus filhos, nos torna participantes de seu
banquete. “Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de
alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação” (Idem).
Na desarmonia da “Casa Comum”, muitas pessoas são provadas pela
tristeza do abandono. No entanto, a fé em Jesus Cristo nos anima a assumirmos o
cuidado com a Casa Comum como resposta ao amor incondicional que Deus oferece a
cada um e a cada uma de nós (Cf. CONIC. Campanha da Fraternidade Ecumênica
2016: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2015. Arte do Cartaz, p.13).
2. Recordando a Palavra
O anúncio da boa nova de Jesus atrai e aproxima d’Ele os
cobradores de impostos e os pecadores. Isto irrita a ortodoxia religiosa. Para
o sistema religioso, fundamentado na lei e na justiça, o pecador compromete a
aliança e a salvação dos justos. Ele deve ser evitado. Ante a murmuração dos
escribas e fariseus, Jesus narra para eles a parábola na qual o pai faz festa
na acolhida do pecador que retorna. Em rápidas e acertadas pinceladas, descreve
a separação e o afastamento do jovem filho de seu pai até a mais degradante
condição de vida.
Reduzido à fome e constrangido, busca sobrevivência junto a um
estrangeiro, que o envia a cuidar de animais impuros (porcos). Na solidão e na
fome, o jovem lembra com saudade a casa paterna. Pelo pão da sobrevivência,
dispõe-se até a trocar a sua condição de filho. Mas eis que entra em cena o
pai. Vai ao seu encontro, o acolhe e o reabilita na condição de filho. Ante à
confissão do jovem, o pai responde com gestos e sinais que o proclamam a pessoa
livre e digna de participar da mesa paterna, num clima de alegria e festa.
No contraponto da parábola está o irmão mais velho, tomado pela
raiva, ciúme e menosprezo pelo irmão que retornou. Presente, mas indiferente e
calculista, acusa o pai de ser injusto com ele. Novamente o pai toma a
iniciativa, gratuitamente vai ao encontro do filho, no intuito de removê-lo de
sua teimosia para participar da sua alegria. A reação espontânea e justa ao
renascimento, à vida do filho “que estava morto e tornou a viver, estava
perdido e foi reencontrado”, não é outra senão a alegria e a festa.
Na parábola, apesar de todas as evidências, falta um “final
feliz”. Provavelmente este fique por contra da conversão do “filho mais velho”
e da experiência da misericórdia de Deus que cada um de nós poderá
experimentar. A parábola do filho pródigo é a mais concreta expressão da obra
do amor e da presença da misericórdia no mundo humano (Evangelho).
O Livro de Josué, que narra a entrada do povo de Israel na Terra
Prometida, constitui-se numa catequese que ressalta a afeição do Senhor por seu
povo. Para os israelitas, instalados na nova terra, aproximava-se a celebração
da primeira Páscoa. Agora, Israel é um Povo renovado que firmou uma aliança com
o Senhor. O rito da circuncisão realizado por Josué se apresenta como uma
espécie de “conversão” coletiva, que põe um ponto final na “opressão do Egito”
e acena para um “tempo novo”.
A Páscoa, celebrada em terra livre, marca o início da nova vida.
Israel é, agora, um Povo novo, o Povo eleito, comprometido com o Senhor que,
com seu braço forte, o conduziu à Terra de onde “corre leite e o mel”. A misericórdia
torna a história de Deus com Israel uma história da salvação (Primeira
Leitura).
O entusiasmo por este novo tempo faz o salmista cantar: “Provai
e deve quão suave é o Senhor!”. “Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu
louvor estará sempre em minha boca” (Salmo Responsorial).
Paulo analisa as relações dos cristãos de Corinto e enfatiza a
necessidade premente de reconciliação entre eles e com Deus. “Daí a ardente
chamada do Apóstolo a que os coríntios se deixem reconciliar com Deus”. Aderir
à proposta de Cristo é acolher a oferta de reconciliação que Deus faz. Ser
cristão implica estar reconciliado com Deus e com os outros homens. Isto é, ser
na prática, uma criatura nova, um ser humano renovado (segunda leitura).
3. Atualizando a Palavra
“Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza
de Deus como a de um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver
dissolvido o pecado e superado a recusa com a compaixão e a misericórdia.
Conhecemos estas parábolas, três em especial: os da ovelha
extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os seus dois filhos (cf. Lc 15,
1-32). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo
quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a
misericórdia é a apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de
amor e consola com o perdão” (MV, n.9)
Jesus nos revela e nos ilustra o agir misericordioso de Deus.
Ele próprio se constitui na manifestação do rosto misericordioso de Deus Pai. “Revela
Deus ‘rico em misericórdia’” (cf. Ef 2,4). Esta verdade, mais do que tema de
ensino, é realidade que o Cristo nos tornou presente. Tornar presente o Pai
como amor e misericórdia, constitui na consciência do próprio Cristo, ponto
fundamental do exercício da sua missão messiânica.
Baseando-se neste modo de manifestar a presença de Deus, que é
Pai, amor e misericórdia, Jesus faz da mesma misericórdia um dos principais
temas da sua pregação (JOÃO PAULO II, Carta encíclica Dives in Misericordia,
3).
Celebrando hoje o mistério do amor misericordioso de Deus, vemos
que a parábola põe em cena três personagens: o pai, o filho mais novo e o filho
mais velho. Três figuras que se transformam em referenciais para o nosso modo
de ser e agir.
O pai é o protagonista da parábola. É apresentado como uma
figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos
filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na comoção
com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua
atitude de orgulho e de autossuficiência em relação ao pai e à casa. Trata-se
de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho. Um pai que
continuou amando, apesar da ausência e da infidelidade do filho.
O filho mais novo é ingrato, insolente e obstinado, que exige do
pai muito mais do que aquilo a que tem direito (cf. Dt 21,15-17). Sua atitude
antecipa a morte do pai (Eclo 33,20-24). Além disso, abandona a casa e o amor
do pai e dissipa os bens que o pai colocou à sua disposição. É uma imagem de
egoísmo, de orgulho, de autossuficiência e de total irresponsabilidade.
Da perda dos bens materiais brota a consciência da dignidade
pedida e da condição de filho desperdiçada. Aqui emerge a grandeza da relação
filial com o pai. “Só agora o jovem descobre que é filho, e só agora pode
perceber toda da gravidade do mal cometido: fazer injustiça a um pai assim é
algo grave” (CENCINI A. Viver Reconciliados. São Paulo. Ed. Paulinas. 2002,
p.75).
Decididamente, o jovem filho empreende o caminho de retorno à
casa do pai. É o apelo do tempo quaresmal: “Deixai-vos reconciliar com Deus”! O
abraço reconciliador do pai faz o pecador experimentar a alegria do perdão.
Na cena há alguém que não entende a festa e nem a suporta: o
filho mais velho. Ele é o “certinho” que sempre fez o que o pai mandou, que
cumpriu as normas e que nunca passou por sua cabeça abandonar a casa do pai. No
entanto, seu modo de proceder se pauta mais pela lógica da “justiça” do que da
“misericórdia”. Este filho está satisfeito em servir um pai-patrão e incomodado
diante “do pai cuja alegria é perdoar” (cf. JOÃO PAULO II, Carta encíclica
Dives in misericordia, 5).
A Quaresma, ao mesmo tempo em que nos convida ao retorno à casa
do Pai, “deixando-nos reconciliar por ele”, apela à misericórdia solidária:
“Jesus Cristo ensinou que o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de
Deus, mas é também chamado a ‘ter misericórdia’ para com os demais. A Igreja vê
nestas palavras um apelo à ação, à prática de misericórdia. Se todas as bem-aventuranças
do Sermão da Montanha indicam o caminho da conversão e da mudança de vida, a
que se refere aos misericordiosos é particularmente eloquente a tal respeito. O
Ser humano alcança o amor misericordioso de Deus e a sua misericórdia, na
medida em que ele próprio se transforma interiormente, segundo o espírito de
amor para com o próximo” (Cf. JOÃO PAULO
II, Carta encíclica Dives in Misericordia, 15).
4. Ligando a Palavra com a ação
eucarística
Neste domingo a Igreja reza: “Vós, Deus de ternura e de bondade,
nunca vos cansais de perdoar. Ofereceis vosso perdão a todos convidando os
pecadores a entregar-se confiantes à vossa misericórdia” (Oração Eucarística
sobre Reconciliação I). A Eucaristia é a celebração do amor cheio de compaixão
do nosso Deus que entrega o seu Filho amado para a salvação da humanidade.
Na Eucaristia Jesus faz de nós testemunhas da compaixão de Deus
pelos outros. Amor misericordioso revelado em Jesus crucificado e ressuscitado,
isto é, no Mistério Pascal. Recorramos, pois, a tal amor que permanece amor
paterno, como nos foi revelado por Cristo na sua missão messiânica, e que
atingiu o ponto culminante na sua Cruz, morte e ressurreição!
“A Eucaristia aproxima-nos sempre do amor que é mais forte do
que a morte. Com efeito, ‘todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste
Cálice’, não só anunciamos a morte do Redentor, mas proclamamos também a sua
ressurreição, ‘enquanto esperamos a sua vinda gloriosa’. A própria ação
eucarística, celebrada em memória daquele que na sua missão messiânica nos
revelou o Pai por meio da Palavra e da Cruz, atesta o inexaurível amor, em
força do qual Ele deseja sempre unir-se e como que tornar-se uma só coisa
conosco, vindo ao encontro de todos os corações humanos” (cf. JOÃO PAULO II,
Carta encíclica Dives in misericordia, 13).
Na Eucaristia, Cristo está presente e se oferece como vítima de
“nossa reconciliação”. Como “filhos pródigos” reunidos e acolhidos pelo Pai,
clamamos: “Olhai com bondade a oferenda da vossa Igreja reconhecei o sacrifício
que nos reconcilia convosco e concedei que, alimentando-nos com o corpo e o
sangue do vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos, em
Cristo, um só corpo e um só espírito” (Oração Eucarística, III).
Quais “filhos pródigos”, acolhidos e introduzidos pelo Pai no
banquete de seu amor, reconhecemos: “Somos criaturas saídas de vossas mãos
amorosas, mas naufragamos por causa do pecado. Vossa misericórdia veio em nosso
socorro e, em Cristo crucificado e ressuscitado, reencontramos o porto da paz.
Revestidos com a graça do perdão, proclamamos vossa misericórdia” (Prefácio da
Penitência).
PRECES DOS FIÉIS
Presidente: O uso da natureza e de todos os bens materiais deve
acontecer de forma justa e voltada para a construção de uma coletividade com
mais igualdade, ao invés de serem utilizados para suprir a ganância de alguns.
Vamos rezar a oração da Campanha da
Fraternidade ecumênica – 2016.
(Rezar todos juntos) Oração da C.F.
ecumênica 2016
1. Deus da vida, da justiça e do
amor,
2. Tu fizeste com ternura o nosso
planeta,
1. morada de todas as espécies e
povos.
2. Dá-nos assumir, na força da fé e
em irmandade ecumênica,
1. a correspondência na construção
2. de um mundo sustentável e justo,
para todos.
1. No seguimento de Jesus, com a
alegria do Evangelho
2. e com a opção pelos pobres.
Todos: Amém.
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Ó Deus, concedei-nos venerar com fé e oferecer pela
redenção do mundo os dons que nos salvam e que vos apresentamos com alegria.
Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
ORAÇÃO PÓS-COMUNHÃO:
Presidente: Ó Deus, luz de todo ser humano que vem a este mundo,
iluminai nossos corações com o esplendor da vossa graça, para pensarmos sempre
o que vos agrada e amar-vos de todo o coração. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
V. RITOS FINAIS
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presidente: Deus, Pai de misericórdia, conceda a todos vocês como
concedeu ao filho pródigo, a alegria do retorno a casa.
Todos: Amém.
Presidente: O Senhor Jesus Cristo, modelo de oração e de vida, os
guie nesta caminhada quaresmal a uma verdadeira conversão.
Todos: Amém.
Presidente: O Espírito de sabedoria e fortaleza vos sustente na luta
contra o mal para poderem com Cristo celebrar a vitória da Páscoa.
Todos: Amém.
Presidente: (Dá a bênção e despede
todos).
ATIVIDADES DO BISPO
DIOCESANO
DIA 03 de março - Quinta-feira: Missa no Seminário Diocesano de
Limeira São João Maria Vianney, às 17h30 (Campinas).
DIA 04 de março - Sexta-feira: Crisma na Paróquia Sagrado Coração
de Jesus, às 19h30, Conchal, SP.
DIA 05 de março - Sábado: Encontro Vocacional no
propedêutico – Limeira; Missa - 11h00, Igreja Matriz de Cambuí, MG; Crisma - Santa
Luzia, às 19h00, Pe. Danilo, Limeira, SP.
Dia 06 de Março – Domingo: Encontro Vocacional no
propedêutico – Limeira; Crisma - Santa Luzia - 10h00, Pe. Danilo, Limeira, SP.
Dia 09 de Março – Quarta-feira: Reunião – Conselho Episcopal –
09h00 , residência episcopal de Limeira; Reunião – Conselho Econômico – 19h30 –
residência episcopal.
Dia 10 de Março – Quarta-feira: Assinatura – Escritura – São
Jerônimo – Cartório de Americana – 10h00.
Dia 11 de Março – Sexta-feira: Reunião – Comissão Pascom –
Regional sul 1 – 09h00 – Residência episcopal de Limeira; Missa – posse Padre
Alexandre Lucente – São Vito – 19h30min – americana