“A Palavra de Deus pode reviver um coração murcho e curá-lo de sua cegueira. O rico conhecia a Palavra de Deus, mas não deixou que ela entrasse em seu coração, não a escutou, então foi incapaz de abrir os olhos e ter compaixão pelo pobre”, disse o papa Francisco, na catequese da quarta-feira, 19 de maio.
Os peregrinos, reunidos na Praça de São Pedro, acompanharam a meditação semanal, que tratou da parábola do Rico e Lázaro (Lc 16, 10-31). Durante a catequese, Francisco recordou que a figura de Lázaro representa o grito silencioso dos pobres de todos os tempos e a contradição de um mundo onde imensa riqueza e recursos estão nas mãos de poucos.
“Ignorar o pobre é ignorar Deus! Isto devemos aprender bem: ignorar o pobre é desprezar Deus”, lembrou o papa.
Confira a íntegra da catequese:
Catequese do Papa Francisco
18 de maio de 2015
Parábola do Rico e Lázaro (Lc 16, 10-31)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Eu gostaria de refletir com vocês hoje sobre a parábola do homem rico e do pobre Lázaro. A vida dessas duas pessoas parece se desenrolar em vias paralelas: as suas condições de vida são opostas e totalmente sem comunicação. A porta da casa do rico está sempre fechada aos pobres, que está lá fora tentando comer alguma sobra da mesa do rico. Esse veste roupas de luxo, enquanto Lázaro estava coberto de feridas; o rico todos os dias tem um banquete luxuoso, enquanto Lázaro está morrendo de fome. Somente os cachorros cuidavam dele e vinham lamber-lhe as feridas. Esta cena lembra a repreensão dura do Filho no juízo final: “Tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, eu estava […] nu e não me vestistes” (Mt. 25,42 a 43). Lázaro representa bem o grito silencioso dos pobres de todos os tempos e a contradição de um mundo onde imensa riqueza e recursos estão nas mãos de poucos.
Jesus diz que um dia aquele homem rico morreu: os pobres e os ricos morrem, têm o mesmo destino, como todos nós, não há exceções a esta regra. E então aquele homem se volta a Abraão, pedindo-lhe com o título de “pai” (vv. 24,27). Portanto, ele afirma ser seu filho, pertencente ao povo de Deus. Mas na vida não mostrou nenhuma consideração por Deus, mas tornou-se o centro de tudo, trancado em seu próprio mundo de luxo e desperdício. Excluindo Lázaro, não teve qualquer consideração nem ao Senhor nem à sua lei. Ignorar o pobre é ignorar Deus! Isto devemos aprender bem: ignorar o pobre é desprezar Deus. Há uma particularidade que deve ser observada nessa parábola: o rico não tem nome, apenas o adjetivo: “o rico”; enquanto o nome do pobre é repetido cinco vezes e “Lázaro” significa “Deus ajuda”. Lázaro, encontrando-se na frente da porta, é um chamado vivo para que o rico se lembre de Deus, mas o rico não acolhe esse chamado. Será condenado, portanto, não por sua riqueza, mas por ser incapaz de sentir compaixão de Lázaro e socorrê-lo.
Na segunda parte da parábola, encontramos Lázaro e o homem rico após a morte (vv. 22-31). Daqui em diante a situação se inverte: Lázaro foi levado pelos anjos ao céu a Abraão, o rico se precipita em meio aos tormentos. Em seguida, o rico “olhou para cima e viu ao longe Abraão, e Lázaro ao seu lado.” Ele parece ver Lázaro pela primeira vez, mas suas palavras o contradizem: “Pai Abraão, diz – tenha misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar a ponta do seu dedo e me refrescar a língua, porque estou atormentado nesta chama”. Agora o rico reconhece Lázaro e pede ajuda, enquanto em vida, fingia não vê-lo. Quantas vezes as pessoas fingem não ver os pobres! Para eles, os pobres não existem. Antes negou-lhe até mesmo as sobras de sua mesa e agora pede o que beber! Ainda assim, ele acredita que pode reivindicar direitos por sua condição social. Declarando impossível atender seu pedido, o próprio Abraão fornece a chave de toda a história: ele explica que o bem e o mal foram distribuídos para compensar a injustiça terrena, e a porta que separava em vida o rico e o pobre, é transformada em “um grande abismo.” Enquanto Lázaro estava em sua casa, para o rico havia uma chance de salvação, abrir a porta, ajudar Lázaro, mas agora que estão mortos, a situação se tornou irreparável. Deus não foi nunca chamado diretamente, mas a parábola adverte claramente: a misericórdia de Deus para conosco é proporcional à nossa misericórdia para com o próximo. Quando esta falta, quando não tem lugar no nosso coração fechado, ela não pode entrar. Se eu não escancarar a porta do meu coração aos pobres, a porta está fechada. Mesmo para Deus. E isso é terrível.
Neste ponto, o homem rico pensa nos seus irmãos, que estão suscetíveis de ter o mesmo destino, e pede que Lázaro retorne ao mundo para avisá-los. Mas Abraão responde: ‘Eles têm Moisés e os profetas, ouçam-nos.’ Para converter a nós mesmos, não devemos esperar acontecimentos milagrosos, mas abrir o coração à Palavra de Deus, que nos chama a amar Deus e o próximo. A Palavra de Deus pode reviver um coração murcho e curá-lo de sua cegueira. O rico conhecia a Palavra de Deus, mas não deixou que ela entrasse em seu coração, não a escutou, então foi incapaz de abrir os olhos e ter compaixão pelo pobre. Nenhum mensageiro e nenhuma mensagem pode substituir o pobre que encontramos na estrada, porque neles encontramos o próprio Jesus: “Tudo o que você fizer ao menor destes meus irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25: 40), diz Jesus. Então na reversão das fortunas que a parábola descreve está escondido o mistério da nossa salvação, em que Cristo une a pobreza à misericórdia. Queridos irmãos e irmãs, ouvindo esse Evangelho, todos nós, junto aos pobres da terra, podemos cantar com Maria: “Depôs poderosos de seus tronos e exaltou os humildes; Ele encheu os famintos com coisas boas, despediu os ricos de mãos vazias “(Lc 1,52-53).
CNBB com informações da Rádio Vaticano.
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