Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
“Um
samaritano chegou perto dele, viu e moveu-se de compaixão”
Leituras: Deuteronômio 30, 10-14; Salmo
68 (69), 14.17.30-31.33-34; Carta de São Paulo aos Colossenses 1, 15-20; Lucas
10, 25-37.
COR
LITÚRGICA: VERDE
Animador: Nesta páscoa semanal de Jesus, somos convocados a abraçar o
mandamento do amor, que se traduz em obras concretas de fraternidade, como
ressalta a parábola do “bom samaritano”. Este mandamento está ao nosso alcance
para ser colocado em prática como testemunho de vida cristã. Mas para isso é
preciso que a Palavra de Deus habite em nosso coração e nossa boca professe a
fé com a ousadia dos primeiros cristãos.
1. Situando-nos
Neste domingo, prosseguindo sua caminhada para Jerusalém, Jesus
revela sua imensa misericórdia. Para mostrar ao mestre da Lei quem é o próximo,
conta uma parábola exemplar, a qual é como um espelho para a pessoa se enxergar
e dar-se conta de suas atitudes e consequentemente mudar de vida.
Temos diante de nós a atitude do sacerdote, a do levita e a do
samaritano. Este último usou de misericórdia e compaixão para com o homem que
caiu nas mãos dos assaltantes: cuidou de suas feridas, fazendo curativos e
derramando óleo e vinho; transportou-o para uma pensão em seu próprio animal,
assumiu as despesas e ainda recomendou cuidados ao necessitado.
Vivenciando o Ano Jubileu da Misericórdia celebramos hoje a
Eucaristia, ápice da compaixão e da misericórdia para conosco. Podemos
apreender d’Ele, como também do bom samaritano, uma atitude permanente de
compaixão e misericórdia para com todos. Não basta só saber quem é o próximo, é
preciso se fazer próximo, independente de raça, cor, religião etc.
2. Recordando a Palavra
O texto do Evangelho de hoje está inserido na viagem de Jesus
para Jerusalém (cf. 9,51-19,28), que culmina na morte e ressurreição. Durante
sua caminhada, Jesus faz o bem, ensina como segui-lo (cf. 9,57-62), envia os
setenta e dois discípulos e escuta-os no retorno da missão (cf 1-,1-24).
Após exultar de alegria por Deus ter revelado os mistérios do
Reino aos pequeninos, Jesus é abordado por um especialista da lei: “Mestre, que
devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (10,25). Jesus devolve a
pergunta e o remete às Escrituras: “O que está escrito na Lei”? (10,26). O
mestre da lei responde: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com
toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu
próximo como a ti mesmo!” (10,27). O mestre judeu recorda o mandamento
principal do amor total a Deus, o único, e que era retomado na oração cotidiana
do shemá (Ouve, Israel; cf., Dt 6,5).
Ele lembra também que o mandamento do amor ao próximo já está presente em Lv
19,18.
O amor a Deus e o amor ao próximo resumem os seiscentos e treze
preceitos da lei. Esse duplo mandamento é a alma, a vida de todos os outros.
Somente o amor dá sentido à lei e a justifica. O amor abrange todas as
dimensões do ser humano. O caminho para possuir a vida eterna é amar a Deus e
ao próximo. “E quem é o meu próximo”? (10,29), pergunta o especialista da lei.
Jesus responde através de uma narrativa exemplar: “o bom samaritano”.
Segundo Lv 19,33-34, próximo era todo israelita e também o
estrangeiro inserido na mesma comunidade. Mas no tempo de Jesus tinham sido
acrescentadas algumas restrições. Assim os pecadores, os não observantes da
lei, eram facilmente excluídos. O samaritano socorre um homem ferido por
assaltantes, enquanto descia de Jerusalém para Jericó. Provavelmente o homem
assaltado e espancado é um judeu. Entre judeus e samaritanos existe hostilidade
racial. Mas a vítima é socorrida justamente por um samaritano, desprezado pelos
judeus por causa de sua raça miscigenada.
É o samaritano, no entanto, quem mostra fidelidade ao
ensinamento da Torá. O sacerdote, encarregado das oferendas dos sacrifícios e
de outras funções no templo, vê o homem ferido, mas passa adiante. O levita,
que, no templo, exercia uma função subordina aos sacerdotes, vê igualmente a
pessoa machucada, mas prossegue o caminho. Como funcionários do culto, eles
seguiam as prescrições de pureza ritual.
Jesus, porém, ensina que o culto não pode ser separado da
prática da misericórdia, Jesus ensina a sermos misericordiosos como o nosso Pai
é misericordioso (cf. 6,36). Ele manifesta a compaixão de Deus, acolhendo as
pessoas necessitadas e doentes (cf. 1713; 18,38).
Semelhante a Jesus, o samaritano “viu e sentiu compaixão”
(10,38). Ele se aproxima da pessoa e cuida de seus ferimentos, desinfeta as
feridas com vinho e coloca óleo para acalmar a dor, aliviar a inflamação (na
época, o óleo e o vinho eram usados como elementos curativos). Em seguida, o
samaritano carrega o homem ferido em seu animal e leva-o a uma pensão. Além
disso, cuida para que seja atendido durante a sua ausência e assume as despesas
de comida e hospedagem, o denário
para o salário de uma jornada de trabalho (cf. Mt 20,2).
Depois de contar toda a história, Jesus pergunta ao especialista
da lei: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos
dos assaltantes?” (10,36). Ele reconhece que o samaritano foi o verdadeiro
próximo, pois agiu com misericórdia. Então, Jesus o impele a ser também
“próximo”, sendo compassivo com as pessoas: “Vai e faze a mesma coisa” (10,37).
Jesus interpreta o mandamento do amor ao próximo, que já era
exigido por Lv 19,18, de forma nova, abolindo os preconceitos raciais, religiosos,
culturais, sociais. O caminho para a vida é o amor solidário, a gratuidade
revelada a todas as pessoas, superando o modo arbitrário de considerar o
próximo como objeto de caridade. Com o exemplo do bom samaritano, Jesus abre
uma perspectiva nova na organização das relações humanas.
A primeira leitura do livro do Deuteronômio é uma parte do
discurso iniciado no capitulo 29. Essa mensagem foi elaborada principalmente no
século VI a.C., durante o exilio na Babilônia. Em meio ao sofrimento causado pelo
exilio, a lembrança do grande líder Moisés motivava o povo a buscar o Senhor. O
povo é chamado à conversão, a voltar-se para Deus com todo o coração e com toda
a alma (cf. 30,10). É necessário escutar a voz de Deus, observar seus
mandamentos, renovar a aliança, a comunhão com seu projeto de libertação.
O mandamento que o Senhor propõe não é superior às nossas
forças, nem está fora do nosso alcance; não está nas alturas do céu, nem do
outro lado do mar (cf. 30,11-13). “Esta palavra está bem ao teu alcance, está
em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir” (30,14). Seguindo a
Palavra de Deus, os seus ensinamentos, o ser humano encontra o caminho da vida.
“Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e teus descendentes” (30,19).
Com o Salmo 68(69), elevemos nossa súplica confiante ao Senhor,
com a certeza de que Ele ouve nossa oração e nos socorre em nossas fraquezas.
Que Ele venha sempre em nosso auxilio e nos ajude a cumprir em nossa vida a sua
palavra.
A segunda leitura, tirada da Carta aos Colossenses, apresenta um
hino sobre Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado e Salvador. Celebra Cristo
na ordem da criação (cf. 1,15-17) e na obra da redenção (cf 1, 18-20). Cristo é
proclamado como Senhor do universo. “Cristo Jesus é a imagem do Deus invisível”
(1,15), uma imagem em tudo igual ao Pai, pois n’Ele reside a plenitude da
divindade. A imagem do Deus invisível torna-se visível em Cristo através da
encarnação na história humana. Cristo é “o primogênito de toda a criatura”,
pois todas as coisas, as do céu e as da terra, foram criadas n’Ele e para Ele.
Ele é o Filho de Deus desde sempre, a quem devemos servir unicamente.
Mediante a vida, a morte e a ressurreição, Cristo oferece a
salvação. Como criador e redentor. Ele transmite vida plena a toda a humanidade.
Assim como todos os seres foram criados em Cristo, também foram reconciliados
n’Ele. O pecado havia instaurado a desarmonia no universo. Mas a morte e a
ressurreição de Jesus Cristo efetuam uma reconciliação de abrangência cósmica.
Todos os seres da terra e do céu foram reconciliados em Cristo e
paz foi estabelecida “pelo sangue da sua cruz” (1,20). Cristo comunica vida ao
ser humano pela redenção. Também a comunica à Igreja, seu corpo. A vida que Ele
oferece aos membros de seu corpo os une em comunhão na missão a serviço do
Reino.
3. Atualizando a Palavra
As leituras de hoje nos levam a rever nossas opções. Uma revisão a partir do coração. Como o
especialista da lei, precisamos ouvir a narrativa exemplar do bom samaritano,
para que, através deste espelho, sejamos capazes de enxergar e avaliar a nossa
prática. O amor de Deus só tem sentido se for entrelaçado existencialmente com
o amor ao próximo.
O samaritano praticou a verdadeira religião da vida, agindo com
compaixão, como Cristo, que se fez próximo de nossa humanidade ferida e
sofredora. Para enxergar o próximo que está ao nosso lado e sermos
misericordiosos e solidários, é preciso sair de nós mesmos, superando todos os
tipos de barreiras e preconceitos.
O bom samaritano nos ensina a viver a misericórdia com o
próximo. Para seguir com fidelidade o projeto de Jesus não é suficiente saber a
doutrina corretamente ou praticar apenas ritos religiosos. É necessário viver a
misericórdia para com as pessoas, sejam elas quais forem.
Há muitas formas de sermos misericordiosos. Entre elas podemos
destacar as ações solidárias desenvolvidas pela Pastoral da Criança. Muitas
pessoas dedicam-se incansavelmente a esse trabalho, como a doutora Zilda Arns
fazia. Que as sementes plantadas por ela, com tanto dinamismo e esperança,
continuem produzindo muitos frutos. “A trajetória da Pastoral da Criança é
repleta de história de esperança, conquistas, superação das dificuldades e
transformação da realidade.
O acompanhamento das famílias e crianças em cada comunidade é um
exemplo do que a sociedade organizada é capaz de fazer na busca de soluções
para os problemas sociais. No entanto, mais do que crescer e salvar vidas de
crianças, de mulheres, de homens, de gente acompanhada, orientada, iluminada
pela vontade de ajudar, de ver crianças crescendo e se desenvolvendo. São
muitos os números que cercam esse trabalho de sucesso, mas o mais importante
dos dígitos não foi e nunca será contabilizado: a transformação social das
comunidades, que tem como protagonistas os próprios voluntários e famílias
acompanhadas” (Cf. www.pastoraldacriança.org.br).
Essas e outras ações solidárias são frutos da compaixão. São
muitas as pessoas caídas nas estradas, feridas, perdidas, com medo, sem
esperança. Permanece o apelo do Senhor que exige de nós uma atitude de
compaixão e de solidariedade: “Vai e faze a mesma coisa”.
Como discípulos (as) de Jesus, caracterizados pelo amor (cf. Jo
13,34), somos chamados a repetir o gesto solidário do bom samaritano,
socorrendo as pessoas necessitadas. Cristo, o Senhor do universo, que
reconciliou todos os seres do céu e da terra mediante a entrega por amor, nos
ensine a viver a compaixão, a misericórdia, a gratuidade sem medida.
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
Nesta celebração litúrgica, entramos em relação com o Deus
misericordioso e compassivo, através de Cristo, principio e primogênito, cabeça
do corpo que é a Igreja. Celebrando o mistério pascal do Senhor, somos
transformados para uma vida nova. É um caminho, um processo. Exige entrega e
capacidade de retomar, de converter-se com todo o coração e com toda a alma, o
que se dá também na ação litúrgica.
Deus vem ao nosso encontro, ao encontro das nossas fraquezas e limites.
Temos esta certeza e, por isso, pedimos: “Ó Deus, que mostrais a luz da verdade
aos que eram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé
rejeitar o que não convém ao cristão, a abraçar tudo o que é digno desse nome”
(Oração do Dia).
Jesus, o Bom Samaritano, vem até nós, cura as nossas feridas,
restitui nossa dignidade. Tendo experimentado tão imenso amor e bondade em
nossa vida, ressoa em nós o mandato: “Vai e faze a mesma coisa”. O envio é significativo:
“Arrisquemos viver movidos pela compaixão”.
PRECES DOS FIÉIS
Presidente: Contemplamos o amor misericordioso do Pai que enviou Jesus como
o Bom Samaritano para curar nossas feridas e nos conduzir nos caminhos da
eternidade.
1. Senhor, que nosso Papa
Francisco, nosso Bispo Vilson, sacerdotes e diáconos, em comunhão com o
Espírito Santo, guiem o povo com exemplos, palavras e ações. Peçamos:
Todos: Ouvi-nos, Senhor.
2. Senhor, que os governantes,
possam exercer a função do bom samaritano, realizando uma política pública do bem-estar
e saúde para a sociedade. Peçamos:
3. Senhor, que nossa comunidade
saiba reconhecer em nossos irmãos e irmãs, o nosso próximo, para que esteja
sempre pronta para ajudá-los. Peçamos:
4. Senhor, que todos os doentes
encontrem força e fé para superar suas dores. Peçamos:
(Outras intenções)
Presidente: Deus de bondade, concedei-nos a força do vosso amor
para que possamos manifestá-lo a cada momento ao nosso próximo. Por Cristo,
nosso Senhor.
Todos: Amém
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Acolhei, ó Deus, as oferendas da vossa Igreja em oração,
e fazei crescer em santidade os fiéis que participam deste sacrifício. Por
Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
ORAÇÃO PÓS-COMUNHÃO:
Presidente: Alimentados pela vossa Eucaristia, nós vos pedimos, ó
Deus, que cresça em nós a vossa salvação cada vez que celebramos este mistério.
Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
V. RITOS FINAIS
AGENDA DO BISPO DIOCESANO:
DIA 09 – Sábado: Crisma – São Luiz Gonzaga – 19h00 – Americana
– Padre Paulo Henrique.
DIA 13 / 14 /15 /16 e 17 - Encontro Nacional da Pascom – Aparecida.
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presidente: O Senhor esteja convosco
Todos:
Ele está no meio de nós.
Presidente: Que o Senhor os abençoe e os torne cada vez mais próximos dos
irmãos e irmãs necessitados.
Todos:
Amém.
Presidente: (Dá a bênção e despede a comunidade).