Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
“Bem-aventurados os
pobres”!
Leituras: Sofonias 2, 3; 3,12-13; Salmo 145 (146),
7.8-9a.9bc-10; Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 1, 26-31; Mateus 5,
1-12a.
COR LITÚRGICA: Verde
Animador:
Jesus nos reúne
em torno de si para ouvirmos sua
proposta de felicidade. É pondo nossa esperança Nele que caminhamos, na
contramão do mundo, rumo à vida feliz, apesar das inevitáveis aflições e
tribulações. A páscoa do Senhor se manifesta nas pessoas e comunidades que
procuram viver as bem-aventuranças.
1. Situando-nos brevemente
Vimos, no domingo passado, Jesus
iniciando sua atividade missionária pregando entre os pobres da região da
Galileia. “Convertam-se, porque o Rei dos Céus está próximo” (Mt 4,17),
conclamava Ele. E ouvimos que “Jesus andava por toda a Galileia, ensinando nas
sinagogas, pregando Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e
enfermidade do povo” (v.23).
É muito bom estarmos de novo aqui
reunidos para ouvir a sua Palavra e celebrar sua Ceia Pascal. Uma verdadeira
graça de Deus! Nosso mestre Jesus, Ele mesmo, está aqui e nos ensina um pouco
mais sobre os segredos do Reino de Deus. Para tanto, Ele nos inicia hoje nas
bem-aventuranças deste Reino. O que será que Ele está a nos dizer? Vale a pena
conferir e refletir.
2. Recordando a Palavra
Estamos ouvindo o Evangelho de
Mateus, que tem como objetivo de fundo mostrar que Jesus é o verdadeiro
Messias-salvador esperado. Não um Messias segundo a mente humana, mas um
Messias segundo o pensamento de Deus: Filho de Deus. E qual é o pensamento de
Deus? A justiça em favor dos pequenos, os fracos, os pobres, os oprimidos, os
abandonados da sociedade. É Jesus é a concreta encarnação desta sabedoria de
Deus. Razão pela qual Ele nasceu, viveu e morreu pobre, totalmente humilde e
desprendido, para estar com os pobres desta terra. Esta sabedoria de Deus é o
segredo da verdadeira felicidade humana: “Reino dos Céus”.
Por isso que hoje (Mt 5,1-12a)
Jesus proclama “felizes”, precisamente, os “pobres em espírito”, os “aflitos”,
os “mansos”, os “famintos e sedentos de justiça”, os “misericordiosos”, os
“puros de coração”, os “promotores da paz”, os “perseguidos por causa da
justiça”, os “injuriados, perseguidos e caluniados por causa de Jesus”. “Deles
é o Reino dos Céus”, eles “serão consolados”, possuirão a terra”, “serão
saciados”, “alcançarão misericórdia”, “verão a Deus”, “serão chamados filhos de
Deus”, enfim, de novo, “deles é o Reino dos Céus”. A estes Jesus diz em alto e
bom som: “Alegrem-se e exultem, porque vai ser grande a recompensa de vocês nos
céus” (v.12a).
Com a vinda de Jesus se cumpre,
pois, o que já fora anunciado pelo profeta Sofonias, como ouvimos na primeira
leitura (Sf 2,3; 3,12-13). Sofonias profetizou nos anos 638-622 a.C.,
precisamente em um tempo de muita corrupção, jogo de poder e opressão das
classes dominantes pondo em sério perigo o futuro da sociedade de então. Dentro
deste contexto, o profeta estimula os “homens humildes e pobres” a buscarem o
Senhor pela prática da justiça e da humildade, pois estes “serão apascentados e
repousarão, e ninguém os molestará” (v.13). Por isso, cantamos hoje com o Salmo
145 a fidelidade de Deus para com os “oprimidos”, os “famintos”, os
“aprisionados”, os “cegos”, o “caído”, o “justo”, o “estrangeiro”, a “viúva” e
o “órfão”, fidelidade essa que, assim, “confunde os caminhos dos maus”.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, repetimos
como refrão.
Dito e feito! A partir do evento
Cristo é que Paulo, como ouvimos na segunda leitura (1Cor 1,26-31), faz ver à
jovem comunidade cristã de Corinto que, de fato, “Deus escolheu o que o mundo
considera estúpido, para assim confundir os sábios; Deus escolheu o que o mundo
considera como fraco, para confundir o que se acha forte” (v.27).
3. Atualizando a Palavra
Retomemos o Evangelho de hoje. Sua
chave está na primeira bem-aventurança: “Felizes os pobres em espírito, porque
deles é o Reino dos Céus”. Esta bem-aventurança “se dirige aos que, no modo
hebraico de falar, são os ‘curvados no seu alento’, pobres até a alma, como a
Bíblia diz dos ‘pobres de Deus’. A bem-aventurança não se dirige ao pobre com
mania de rico, mas às pessoas que assumem sua pobreza, sabendo que Deus tem
outros critérios de felicidade do que nós. E quando se trata dos que têm fome e
sede, que tenham, antes de tudo, fome e sede da justiça de Deus, incomparável
com a justiça humana. Pois só essa justiça fará com que tudo seja radicalmente
bom. Assim, o estado de espírito dos que são aqui felicitados torna-se um
programa de vida para todos os que querem ser do Reino (...) A pobreza, quando
assumida ‘de coração’, é a situação privilegiada para reconhecer a justiça de
Deus. Riqueza e poder tornam cego. Mas quem vive a situação de pobreza como uma
procura da justiça de Deus, esse tem chance de a encontrar. Por isso, os pobres
são o sacramento da justiça de Deus” (J. Konings. Op., cit., p.137-138).
Levando isso para a prática,
podemos dizer que Jesus anuncia o Reino de Deus, como dom e missão, aos que têm
o “espírito dos ‘pobres de Deus’: os que não pretendem dominar os outros pelo
poder e a riqueza, mas se dispõem a colaborar na construção do reino de amor,
justiça, paz, tornando-se pobres, colocando-se do lado dos pobres e confiando
antes de tudo no poder de Deus e no valor de ‘justiça’, que é a sua vontade,
seu plano de salvação. Os ‘pobres de Deus’ assumem atitudes inspiradas por Deus
e seu Reino: pobreza (não apenas
forçosa, mas no espírito e no coração), paciência (com firmeza), justiça (com
garra), paz (na sinceridade) etc. Aos que vivem assim, Jesus anuncia a
felicidade (‘bem-aventurança’) do Reino. Esses são cidadãos do Reino, os herdeiros
da terra prometida. E, de fato, o ‘manso’, o não violento tem mais condições de
usar a terra que o grileiro. Os pobres solidários constroem uma sociedade
melhor que os ricos egoístas. Há quem diga que as Bem-aventuranças não visam os
pobres materialmente, porque esses não podem ser ‘promotores da paz’ aos quais
se refere a sétima bem-aventurança (Mt 5,9). Mas será que a verdadeira paz,
fruto da justiça, não é promovida pelos pobres e os quem em solidariedade com
eles lutam pelo direito de todos?” (Ibidem, p.138)
Enfim, à luz da Palavra de Deus
hoje ouvida, podemos chegar a esta conclusão prática: “Devemos optar, na vida,
pelos valores do Reino e não pelo poder baseado na opressão, na exploração...
Devemos optar pelos pobres e não pelos que os empobrecem! Para isso, precisamos
do desprendimento, pobreza até no nosso íntimo (‘no espírito’). A
Bem-aventurança não vale para o pobre com mania de rico! Os pobres no espírito
são os que não apenas ‘queriam’, mas efusivamente querem e optam por formar ‘povo
de Deus’ com os oprimidos e empobrecidos, porque têm fome e sede do Reino de
Deus e de sua justiça” (Idem)
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
Jesus, o verdadeiro
Messias-salvador, nos ensina hoje que ter a riqueza, o capital, o poder, como
sendo a coisa mais importante da vida, a felicidade, um verdadeiro deus, não é
o segredo da plena realização humana. O segredo está no Reino de Deus e sua
sabedoria encarnada no pobre e humilde Jesus. Por isso, logo no início desta
celebração, como que nos preparando para ouvir a Palavra, fizemos este
significativo pedido: “Concedei-nos, Senhor nosso Deus, adorar-vos de todo o
coração, e amar todas as pessoas com verdadeira caridade” (Oração do dia).
Esta é a nossa fé cristã. A
dimensão do Reino de Deus encarnado na pessoa de Jesus, acima de tudo! Logo
mais, depois de celebrarmos o “mistério desta fé” (paixão, morte, ressurreição
de Jesus), comendo e bebendo juntos do seu Corpo entregue e do seu Sangue
derramado, concluímos com esta belíssima oração: “Renovados pelo sacramento da
nossa redenção, nós vos pedimos, ó Deus, que este alimento da salvação eterna
nos faça progredir na verdadeira fé. Por Cristo, nosso Senhor”. E todos
respondem: “Amém!” (Oração depois da Comunhão).
Que a Palavra de Deus hoje ouvida e
refletida, assimilada, juntamente com a Eucaristia celebrada, nos animem e
fortaleçam no mistério das bem-aventuranças. Amém!
Oração dos fiéis:
Presidente: Peçamos ao Senhor o espírito das bem-aventuranças para
todos nós, dizendo:
T.: Ouvi, Senhor, a nossa prece!
1. Para que a Igreja viva com
fidelidade as bem-aventuranças e sempre proclame como caminho de salvação,
rezemos:
T.: Ouvi, Senhor, a nossa prece!
2. Para que as autoridades se
deixem imbuir dos valores do evangelho e defendam os direitos dos fracos e
desprezados, rezemos:
3. Para que os oprimidos e
perseguidos encontrem nos cristãos solidariedade e empenho pela sua libertação,
rezemos:
4. Para que nossa comunidade
assimile as propostas das bem-aventuranças e faça a experiência da felicidade que
elas anunciam, rezemos:
5. Para que Deus acolha a prece que
está no coração de cada fiel aqui presente (em silêncio cada um representa a
sua prece), rezemos:
(Outras intenções)
Presidente: Tudo isso vos pedimos, ó Pai, por Cristo, nosso
Senhor.
Todos: Amém.
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Para vos servir, ó Deus, depositamos nossas oferendas em
vosso altar; acolhei-as com bondade a fim de que se tornem o sacramento da
nossa salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO:
Presidente: Renovados pelo sacramento da nossa redenção, nós vos
pedimos, ó Deus, que este alimento da salvação eterna nos faça progredir na
verdadeira fé. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
RITO FINAL
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presidente: O Senhor esteja convosco. Todos: Ele está no meio de nós.
Presidente: (dá a bênção e despede a todos).