Nunca se falou tanto em
fake news, ou as famosas noticias falsas, como ultimamente. O fato é que isso já tomou uma proporção gigantesca, sobretudo nas redes sociais, onde somos, constantemente, bombardeados com esse tipo de conteúdo.
Pe. Antonio Aparecido Alves, mestre em Ciências Sociais e pároco da Paróquia São Benedito, no Alto da Ponte, aponta as redes sociais como um berço das notícias falsas. “A rede social se tornou uma arena, um ringue. Vemos crescer o ódio e a intolerância que são compartilhados, inclusive, por pessoas de boa fé, que frequentam nossas igrejas. Mas que se veem atraídas por discursos presentes em posts do Facebook que criminalizam quem pensa diferente de nós”, observa o padre que ainda conclui: “Gostaria de convidar os que navegam nessas redes para que evitem postar ou compartilhar coisas que possam promover ainda mais o ódio e a intolerância. Não vamos fazer papel de incendiário, jogando gasolina na fogueira ou colocando mais lenha. Às vezes temos que pensar duas vezes antes de falar, vamos fazer o mesmo antes de postar ou compartilhar posts na internet”, completa Pe. Toninho.
Um caminho sem volta. Quem nunca recebeu daquele tio uma mensagem sem qualquer vínculo com a verdade? Em alguns casos, tais mensagens caluniosas podem gerar até mesmo atos de violência, contribuindo para uma cultura de morte. Em outros casos geram o pânico ou mudam rumos políticos, por exemplo.
E é no campo da política que esse tipo de mensagem tem a sua maior morada. Embora antigo, o termo fake news foi popularizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o processo eleitoral de 2016. Nesse período, a cada 50 notícias falsas que eram postadas no Facebook, 33 foram sobre política.
Mas a Igreja não está imune e nem passa ilesa sobre esse assunto. São diversas notícias que afetam desde a vida das pequenas comunidades aos padres famosos. Coisas que o Papa nunca disse são atribuídas a ele constantemente. Mas em nome de que ou qual seria o motivo das constantes veiculação e formulação das fake news?
Rafael Cannizza é advogado e atua na área do Direito do Entretenimento e entende que o processo produtivo de uma notícia deva ser antecedido por uma produção técnica e realizada através de pessoas especializadas. “Princípios universais devem ser observados. Checagens, estudo, verificações e comprovações são alguns dos requisitos essenciais”, afirma Cannizza.
O advogado ainda ressalta o trânsito no mundo virtual do robusto interesse nos cliques. “Há empresas e organizações internacionais especializadas na remuneração concentrada nos cliques de acesso guardando correlação a áreas de interesses de cada grupo de frequentadores do espaço virtual. Por óbvio, a verdade, a moral, a ética e os bons costumes nessas horas são relegados ao último dos lugares. O que interessa é o retorno financeiro que uma notícia falsa plantada pode gerar, vinculado ao número de acessos que ela pode gerar”.
Essas mensagens viralizam, pois grande parte dos usuários não se preocupam em checar as informações que recebem e logo repassam para outros que fazem o mesmo procedimento ou ainda essas mensagens vão de encontro com aquilo que elas têm fé que sejam verdade, o que chamamos de pós-verdade.
Como identificar uma fake news? Cannizza não enxerga isso como uma tarefa fácil. Muitas vezes as falsidades são implantadas de forma sutil e refinada, como diz o Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações de 2018. “A leitura assídua, o estudo, o acompanhamento e constante consulta aos veículos de comunicação idôneos podem ser um filtro importante”, defende o advogado.
Com o cenário em alta, surgiram agências verificadoras de fake news, as fact-checking. Nesse contexto, é importante salientar a seriedade do trabalho para que não carecterize uma censura. Essas agências não checam opiniões. Não fazem previsões de futuro. Elas não devem apontar tendências. O principal objetivo é esforça-se para verificar o grau de veracidade de frases que contenham dados históricos, estatísticos, comparações e informações relativas à legalidade/constitucionalidade de um fato.
Cybercrimes. O Brasil ainda não tem uma legislação específica para punir quem produz e compartilha notícias falsas ou sem embasamento, mas isso não quer dizer que quem não checa a veracidade das informações compartilhadas está livre de ser responsabilizado.
O Marco Civil da Internet, no artigo 19, prevê que “com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário”.
Compartilhem antes que apaguem essa informação. Com certeza você já deve ter recebido alguma notícia com esse imperativo no final. Pois bem, esse já é um alerta para um possível boato circulando por aí. Desconfie e nada de passar para sua lista de contatos. A reação às notícias falsas deve ser tão “espontânea” quanto a sua propagação. O que acontece hoje é que a pessoa lê a manchete e no máximo três linhas e já compartilha.
Se as pessoas, ao receberem qualquer mensagem, ao menos duvidassem já seria um importante passo para a não propagação das fake news. A dúvida gera o questionamento e, consequentemente a apuração dos fatos.
Portanto, ao receber uma mensagem em suas redes sociais e aplicativos de mensagens, antes de compartilhar, duvide!
http://diocese-sjc.org.br/fake-news-virais-da-desinformacao/