Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
“Ele enviará
os anjos para reunir os seus eleitos, da extremidade da terra à extremidade do
céu”
(Mc 13,27)
Leituras: Daniel 12, 1-3; Salmo 15
(16), 5 e 8.9-10.11; Carta aos Hebreus 10, 11-14.18; Marcos 13, 24-32.
COR LITÚRGICA: VERDE
Animador:
Nesta páscoa semanal, memorial da
paixão-morte-ressurreição do Senhor, Jesus vem nos mostrar o plano de Deus para
cada um de seus filhos e filhas. Ele quer que, durante a nossa caminhada
terrena, nos preocupemos e nos esforcemos para viver o verdadeiro amor à Deus e
ao próximo, para que, assim, façamos as escolhas corretas, ficando sempre
atentos e vigilantes quanto à nossa fé, pois, o seu plano de amor é para nos
levar definitivamente para perto do Pai. Por isso, Ele nos pede vigilância e
discernimento em relação aos sinais dos tempos, fomentando, em nosso coração,
uma atitude de esperança pela manifestação gloriosa da majestade do Senhor.
ANTÍFONA DE
ENTRADA: Os meus pensamentos são de paz e
não de desgraça, diz o Senhor. Invocar-Me-eis e atenderei o vosso clamor, e
farei regressar os vossos cativos de todos os lugares da terra (Jer 29,
11.12.14).
ORAÇÃO DO
DIA: Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de encontrar sempre
a alegria no vosso serviço, porque é uma felicidade duradoira e profunda ser
fiel ao autor de todos os bens. Por Nosso Senhor Jesus vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
T.: Amém.
1.
Situando-nos brevemente
Na construção e realização da caminhada do ano litúrgico,
chegamos ao 33º domingo do Tempo Comum, neste ano dedicado a reflexão do
Evangelho de Marcos. Como em todos os domingos, fazemos memória do “dia do
Senhor”: reunidos, em torno da mesa da Palavra e da mesa Eucarística,
celebramos, como comunidade de batizados e batizadas, o mistério da paixão,
morte e ressurreição de Jesus Cristo, com o qual o mundo e a história mergulham
na plenitude dos tempos.
Neste sentido, a celebração deste domingo nos motiva a assumir a
condição de peregrinos nesta terra, onde tudo é efêmero e provisório. Somos
caminheiros a procura da Eternidade que só encontramos em Deus, nosso Pai
misericordioso. Frente a um mundo capitalista, que coloca sua confiança e
esperança nos bens passageiros, vemos, com a liturgia deste domingo, um grande
alerta: O céu e a terra passarão, porém, aquilo que permanece, para sempre, é a
Palavra de Deus. Sim, Ela é fiel e Eterna, única capaz de nos transformar e de
saciar nossa “fome” e “sede” de Salvação. Assim, Deus nos pede vigilância e discernimento
ativo acerca dos sinais dos tempos, numa atitude de esperança pela manifestação
gloriosa da majestade do Senhor.
Por isso, aguardando a total manifestação de Deus na plenitude
dos tempos, vivamos intensamente o presente, nos esforçando em dar o melhor de
nós, na esperança de que um mundo novo é possível – Lutemos por construir um
Novo Céu e uma Nova Terra. Enquanto aguardamos a vinda final de Jesus, não
podemos ficar parados. Vejamos, pois, mais profundamente, o que a Liturgia da
Palavra deste 33º domingo do Tempo Comum tem a nos dizer.
2. Recordando a Palavra
Durante o ano B, que estaremos concluindo no próximo domingo,
fomos guiados pela sabedoria do evangelista Marcos. Nesta celebração, ao lermos
os versículos propostos, ficamos preocupados em compreender a Boa-Nova que nos
está sendo anunciada. A mensagem de Jesus é, num primeiro momento, apavorante
(cf. Mt 13, 24-32): fala de grande tribulação seguida do sol escurecendo, da
lua perdendo seu brilho, das estrelas caindo do céu, das forças do céu sendo
abaladas. Em outras palavras, é um clima de verdadeira sensação do “final dos
tempos”! E, ainda diz: “Então vocês verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com
grande poder e glória” (v.26); e os anjos serão por ele enviados para reunir de
todos os cantos da terra todos os “eleitos de Deus” (v.27). Neste contexto,
este trecho do Evangelho de Marcos contém um amplo e enigmático ensinamento,
tendo, como ponto de partida, o Templo de Jerusalém. Uma explicação plausível
para este relato, podemos encontrar nas notas de rodapé da Bíblia do Peregrino,
à página 2433:
“Chegamos ao capítulo mais difícil deste Evangelho, o chamado
discurso escatológico. Difícil, porque fala de acontecimentos futuros mal
conhecidos em seu desenvolvimento; difícil, porque se refere a tempos de crise,
confusos por natureza, e também porque emprega imagens e uma linguagem marcada
pelas alusões enigmáticas, reticências enunciadas, ocultação tática. Para
interpretá-lo em seu conjunto (e não nos detalhes) é preciso ter presente: a) a
intenção primeira não é satisfazer a curiosidade de agoureiros e de seus
clientes crédulos: b) a formação de atitudes é muito mais importante do que a
mera informação. Por isso, devem-se destacar as admoestações à cautela e à
vigilância. Atitudes especialmente necessárias em tempo de crise; c) este
estilo de literatura já está presente na literatura profética do Antigo
Testamento, por isso, devemos ter presente a história do povo de Israel para
interpretá-las; d) toda essa literatura se presta a interpretações e aplicação
variadas. Assim, pois, resulta verossímil e provável uma instrução de Jesus a
seus discípulos para a crise que se avizinha e para o futuro”.
Com esta explicação, podemos nos tranquilizar: assim, não
devemos nos preocupar em entender e explicar cada uma das expressões do
evangelho de hoje. É preciso ver mais o “contexto” do que o “texto”. Através da
linguagem apocalíptica, o Evangelista deseja auxiliar a primitiva comunidade
cristã na compreensão da destruição da cidade de Jerusalém e de seu majestoso
templo, ocorrida no ano 70, e das sucessivas perseguições a que era submetida.
À luz dos acontecimentos, havia quem entendesse os últimos tempos como
intervenção avassaladora de Deus. Marcos, então, elabora uma catequese sobre os
últimos tempos, o retorno do Filho de Deus e a salvação dos eleitos que
perseveraram. Ele tem por objetivo animar e fortalecer a perseverança e a
esperança dos seguidores de Cristo. As comunidades devem confiar na “revelação
gloriosa do Senhor”. Neste dia, se manifestará a justiça de Deus, os inimigos
serão derrotados e os bons glorificados.
Seguindo o estilo das narrativas apocalípticas, o evangelho
deste domingo utiliza imagens fortes: “o sol vai ficar escuro, a luz não
brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu, e os poderes do espaço
ficarão abalados” (vv. 24 e 25). Em meio a todos estes sinais, se manifestarão
o poder e a majestade de Deus pela manifestação gloriosa do Filho do Homem
(v.26). “Ele enviará os anjos dos quatro cantos da terra, e reunirá as pessoas
que Deus escolheu” (v.27). Além disso, com a imagem da figueira, Marcos
ressalta que, face aos fatos e às perseguições, os cristãos devem discernir e
esperar, confiantes na ação de Deus. É um aviso de que, dos escombros das
estruturas do velho mundo brotarão um novo céu e uma nova terra e que é preciso
ficar vigilantes, pois, não sabemos nem o dia nem a hora que tudo isso irá
acontecer (v.32).
Neste sentido, realiza-se, pois, a profecia de Daniel, como
ouvimos na primeira leitura (Cf. Dn 12, 1-3), que anuncia “um tempo de angústia
como nunca houve” (v.1), mas dentro do qual os justos serão salvos, despertarão
para a vida eterna; os sábios brilharão como as estrelas, por toda a
eternidade” (v.2-3). Logo, o justo que se refugia totalmente em Deus pode se
sentir sempre seguro, confiante, inabalável, tranquilo, eternamente feliz e
alegre. Por isso que em meio às angústias da vida podemos confiantes cantar o
Salmo 16, em cujo refrão pedimos: “Protege-me, ó Deus em ti me refúgio” (1a). É
desta confiança que nascerá uma “nova humanidade”.
A atitude de esperança evidencia-se, igualmente, na leitura da
carta aos Hebreus (2ª Leitura). As comunidades tomadas pelo desânimo, em meio
às perseguições, perpetuam o sacrifício de Jesus Cristo. Embora a situação
social e comunitária não evidencie o novo, um dia Cristo vencerá, colocando
seus inimigos sob seus pés (v.13). A Carta reafirma, ainda, a superioridade do
sacerdócio de Cristo e acentua o contraste entre o sacerdócio/sacrifício de
Cristo, que é único e eficaz, e o sacerdócio/sacrifício da antiga Lei. A
oferenda de Cristo é única e verdadeira e é aquela que dá “vida nova” para toda
a humanidade.
3. Atualizando a Palavra
Pelo fato de vivermos neste mundo, estamos sujeitos a passar por
assustadoras situações de todo tipo, parecendo, até, estarmos próximo ao “fim
do mundo”. Foi a experiência vivida pelas comunidades cristãs primitivas. Elas
viviam em contextos sociais, políticos e culturais conflituosos: guerras e
guerrilhas, massacres e, pior ainda, de cruéis perseguições contra os próprios
cristãos. Sem contar os contextos amedrontadores de acidentes naturais,
certamente conhecidos e até vividos por muitos. E é dentro desse contexto que o
Espírito faz ver – também pelo evangelho de Marcos – uma mensagem de fé cristã.
Esta mensagem é passada pelo evangelista mediante um gênero
literário típico, herdado da tradição judaica, com a intenção de “fortalecer” a
esperança do povo em tempos de crise. Chamam-no de gênero apocalíptico. Com
certeza, as situações conhecidas e vividas pelas primitivas comunidades cristãs
eram às vezes tão cruéis que muitos chegavam a se questionar: será que, com
tudo isso, vale a pena ser cristão, discípulo e discípula de Jesus Cristo? Tem
algum sentido este seguimento? Estas indagações eram sinais da tentação que
sofriam, impelidas, principalmente, pelo desânimo total no caminho cristão,
pessoal e comunitário.
E é ai que entra o evangelista com a mensagem de fé: usando o
gênero apocalíptico, imagina a possibilidade real até dos mais assustadores acontecimentos
cósmicos, inclusive o fim de tudo. Como que para nos dizer: mesmo assim, não se
intimidem, não desanimem, tenham coragem, pois o Filho do Homem que já passou
pela tragédia do sofrimento, da cruz e da morte, venceu e, ressuscitado, se faz
presente “com grande poder e glória” também em nossas tragédias e sofrimentos
(v.26). Este será o grande e permanente fator que nos une a todos como “eleitos
de Deus” (v.27) e nos estimula a fé no Ressuscitado presente na história
humana. Numa reflexão teológico-exegética, o ensinamento de Jesus ecoa assim:
“’Aprendam com figueira’ (v.28): precisamos ter uma atitude de
vigilância. Trata-se de descobrir no fundo de cada pessoa e de cada
acontecimento que o Reino está presente e cresce (cf. Mc 4,26-29). A leitura
cristã da realidade não fica só na superfície. Se não formos mais fundo,
corremos o risco de sermos infiéis, de tomar outros caminhos, que não são o do
Reino assumido por Jesus, cujo cume foi a ressurreição passando pela cruz”
(ROMAGUERRA, J. M. El evangelio en médio
a la vida. Domingos y fiestas del ciclo B. Op. cit., p. 175).
Vale lembrar que as palavras de Jesus, na Liturgia de hoje,
foram ditas precisamente em Jerusalém - as portas da paixão, portanto. Tudo é
passageiro, “mas as minhas palavras não passarão” – afirma Jesus – (v 31).
Acreditem e, crendo, vocês não vão esmorecer no compromisso com o Reino, mesmo
enfrentando as piores tragédias. Mas quando vai acontecer tudo isso? Aí ouvimos
Jesus dizendo: “Ninguém sabe! Nem o Filho o sabe, mas somente o Pai” (v.32).
Isso é tudo, e pronto! Cultivando esta consciência, vivam então o Amor!
“As catástrofes e perseguições não pressagiam a vitória do mal.
Jesus convida (v.31) a aproveitar essa oportunidade para nos convertermos e
passar o medo – experiência humana natural – confiança de que o Espírito atua.
Ocasião de sermos fiéis ao Amor. Assim podemos ter uma visão positiva da
história, como lugar da ação amorosa de Deus, como lugar em que podemos amar”
(Ibidem, p. 175).
4. Ligando a Palavra com a Ação Eucarística
A ação eucarística é vivência
antecipada da manifestação gloriosa de Cristo, acontecendo hoje, pela prática
da fé e da caridade solidária. Assim rezamos: “Anunciamos, Senhor, a vossa
morte e proclamamos a vossa ressurreição, enquanto aguardamos vossa vinda”. Há
íntima unidade entre a ação litúrgica e a escatologia, espera da vinda de
Cristo. “Maranátha” (1Cor 16,22). “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,20). Em cada
celebração eucarística, renova-se para a Igreja a esperança do retorno glorioso
de Cristo. Sempre renovada, ela reafirma o desejo do encontro final com Aquele
que virá para realizar seu plano de salvação universal (cf. João Paulo II, Eucaristia e Missão, 19 abr 2004).
A eucaristia que celebramos é
memória da “volta do Senhor”. Paulo afirma: “todas as vezes que comeis desse
pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor
11,26). O pão e o vinho, frutos do trabalho humano, transformados pela força
salutar do Espírito Santo no Corpo e no Sangue de Cristo, tornam-se o penhor de
“um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1), que a Igreja anuncia em sua missão
cotidiana. No Cristo, presente no mistério eucarístico, o Pai pronuncia a
palavra definitiva sobre a humanidade e sobre sua história.
A ação litúrgica (em particular a
Eucaristia), ao mesmo tempo em que no presente resgata o passado, projeta ao
futuro, inserindo seus participantes no “tempo novo”: Por isso, podemos rezar,
numa única voz: “Assim como aqui nos reunistes, ó Pai, à mesa do vosso Filho...
reuni no mundo novo, onde brilha a vossa paz, os homens e as mulheres de todas
as classes e nações, de todas as raças e línguas, para a ceia da comunhão
eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Oração Eucarística sobre Reconciliação
II). Amém.
Oração dos fiéis:
Presidente: Como caminheiros que se dirigem à casa do Pai,
elevemos, ao coração misericordioso de Deus, nossas preces e peçamos a graça de
chegarmos à morada Eterna.
Todos: Caminha conosco, Senhor.
1. Senhor, fazei que a Igreja,
guiada pelo Papa Francisco,
seja um instrumento da prática da justiça e exerça o ministério da caridade.
Peçamos:
2. Senhor, fazei que os nossos
governantes e aqueles que têm maior posse saibam partilhar, e que a riqueza
tenha justo destino e não fique acumulada. Peçamos:
3. Senhor, ajudai-nos a promover o
respeito a todas as pessoas, especialmente às que sofrem algum tipo de
preconceito e exclusão. Peçamos:
4. Senhor, fortalecei os cristãos e
cristãs, para que não se abalem diante das dificuldades e contrariedades da
vida, mas, alicercem sua esperança em Ti. Peçamos:
(Outras intenções)
Presidente: Pai de bondade, criador do céu e da Terra, olhai, com
bondade, para teus filhos e filhas que caminham, ainda nesta vida, confiantes e
na esperança de viverem numa aurora sem ocaso. Por Cristo, nosso Senhor.
T.: Amém.
LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Concedei, Senhor nosso Deus, que a oferenda colocada sob
o vosso olhar nos alcance a graça de vos servir e a recompensa de uma eternidade feliz. Por Cristo nosso Senhor.
T.: Amém.
ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO:
Presidente: Tendo recebido em comunhão o Corpo e o Sangue de vosso
Filho, concedei, ó Deus, possa esta Eucaristia que ele mandou celebrar em sua
memória fazer-nos crescer em caridade. Por Cristo, nosso Senhor.
T.: Amém.
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presidente: (Dá a bênção e despede a todos).
Canto final.