Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
DIOCESE DE
LIMEIRA
5º DOMINGO
DA QUARESMA - 07 de abril de 2019
“Ele veio para
revelar a misericórdia”
Leituras: Isaías 43,
16-21; Salmo 125 (126), 1-2ab.2cd-3.4-5.6; Carta de São Paulo aos Filipenses 3,
8-14; João 8, 1-11.
COR LITÚRGICA: ROXA
Animador: Nesta Eucaristia somos convidados a
experimentar a grande misericórdia de Jesus que está sempre pronto a nos
perdoar, acolher e salvar. Jesus nos oferece sua graça e nos coloca no caminho
da conversão. Que saibamos sempre voltar ao Pai, pois está sempre de braços
abertos para nos receber
1. Situando-nos
Neste quinto domingo da Quaresma, somos convidados a
reconhecer nossos pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face
de mais uma manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus,
através dos gestos e da Palavra de Jesus. A liturgia de hoje revela-nos um Deus
que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a escravidão da lei e das nossas
próprias fragilidades para chegar à vida nova, à ressurreição.
Na reta final da caminhada em direção à Páscoa, o domingo
de hoje se constitui num forte apelo à conversão. A conversão do coração
significa mudança de orientação de vida. Ora, exige-se mudança radical quando a
pessoa se encontra desviada do caminho do amor a Deus e aos irmãos, centrada em
si mesma e “com as mãos repletas de pedras”.
A Quaresma é um tempo para cuidar de nosso coração,
libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do julgamento e do rancor.
E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que necessitam da misericórdia,
por não pertencermos ao grupo oficial dos “justos”, resta-nos a bem-aventurança
da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e em sua voz firme e suave
que diz: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques
mais”. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!
Não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema
do mal e do pecado. Só o amor e a misericórdia geram vidas e fazem nascer o
homem novo.
2. Recordando a Palavra
Depois de um dia tumultuado e que todos tinham voltado
para sua casa, Jesus se retira no Monte das Oliveiras e aí passa a noite em
oração.
Nas primeiras horas da manhã, ele já se encontra no templo
e o povo ao seu redor atento a tudo o que ele ensinava.
A fala do Mestre e a escuta do povo é interrompida pela
cilada dos fariseus e escribas. Diante de Jesus e no meio do povo colocam uma
mulher surpreendida em flagrante adultério. Pela lei a mulher devia ser
apedrejada (cf. Lv 20,10; Dt 22,23ss). Para testar a autenticidade e fidelidade
da pregação do Mestre, eles desejam ouvir sua opinião. Jesus percebendo a
armadilha, nada responde, serenamente se inclina e com o dedo começa a escrever
no chão.
Jesus tem consciência de que o pecado não é um caminho
aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz. No entanto, também não aceita
pactuar com uma Lei que, em nome de Deus gera morte. Para Ele, o mais
importante é revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao pecador.
Nervosos os acusadores insistem para que Jesus emita seu
parecer. Jesus se ergue e sentencia: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a
primeira pedra”. Não discute com eles a lei, apenas muda o alvo do julgamento.
Pede que eles (fariseus e escribas) examinem a si mesmo à luz do que a Lei lhes
exige. Os que imaginavam ser observantes da Lei e com o direito de julgar os
outros, a começar pelos mais velhos, envergonhados, se retiram com suas pedras.
No fim, Jesus está com a mulher e nem lhe pergunta se está
ou não arrependida. Livre dos acusadores, ela ouve as palavras de Jesus: “Eu
também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Ela
está de pé diante daquele que não permite que alguém use a Lei de Deus para condenar.
Ela é absolvida, redimida e dignificada (Evangelho).
Da Babilônia ecoa o grito por uma nova libertação. Os
judeus exilados se sentem desorientados e sonham com um novo êxodo libertador.
O profeta anuncia a iminência da libertação e compara a saída da Babilônia e a
volta à Terra Prometida com o êxodo do Egito.
Os exilados devem confiar no Senhor. Ele não se esqueceu
deles. Ele acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo. Esse
“caminho” é o paradigma de nossa libertação que Deus nos convida a fazer na
Quaresma e que nos conduzirá à Terra Prometida onde corre a vida nova (primeira
Leitura).
Reconhecendo as maravilhas que o Senhor fez em favor de
seu povo, o salmista nos convida a sair de nossos cativeiros e proclamar as
vitórias que acontecem ao longo da caminhada do povo, unidas à vitória de
Cristo. “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!” (Salmo
Responsorial).
Paulo, da prisão, escreve com terna afeição aos amigos de
Filipos. Relata sua experiência de conversão. Para se identificar com Cristo,
abandonou inúmeras realidades. No horizonte de sua caminhada está Cristo
crucificado e ressuscitado. A conversão exigiu dele uma nova escala de valores
centrada em Jesus Cristo, que conduz a uma identificação com o seu amor, o seu
serviço, a sua entrega (segunda leitura).
3. Atualizando a Palavra
A vida cristã é uma caminhada permanente em direção à
Páscoa, à ressurreição. Eis que estamos na reta final para a Páscoa. Neste
tempo de Quaresma, com maior intensidade, somos convidados a deixar para trás o
passado que nos aprisiona e a aderir à vida nova que a lógica da misericórdia
de Deus nos propõe.
Em cada Quaresma ressoa o apelo: “coração ao alto”,
convidando-nos a olhar para o futuro e a ir além de nos mesmos, na busca do
Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de atitudes no sentido de esquecer
os rancores do passado, os pecados, as tristezas que imobilizam a vida, daquilo
que no presente é causa de queda, de fracasso, de frustração.
Sempre há um caminho longo pela frente, sempre podemos
mudar o curso da nossa vida, de nossa história, basta que haja o desejo
profundo de mudança no interior de nosso coração. Contudo, a conversão é um
caminho em construção. Precisamos estar conscientes de que, enquanto caminhamos
neste mundo, “ainda não atingimos a meta”. A identificação com Cristo é, pois,
um desafio constante, que exige empenho diário, até chegarmos à meta do Homem
Glorificado.
Olhando para a nossa sociedade, averiguamos que o
fundamentalismo e a intransigência, muitas vezes, falam mais alto do que o amor
misericordioso: mata-se, oprime-se, escraviza-se me nome de Deus;
desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da
moral e dos bons costumes. Que fazer para transformar a realidade em que estamos
mergulhados?
Jesus, face à atitude condenatória dos fariseus e
escribas, denuncia a lógica dos que se julgam “perfeitos e
autossuficientes”(..). “Devemos perdoar como pecadores, não como Justos (...)
quando o pecador perdoa, compreende que seu perdão é mais para ser
compartilhado que para ser concedido, não é dar do próprio, mas haurir de um
dom que vem do alto, sem o qual não seríamos jamais capazes de misericórdia”
(CENCINI A. Viver Reconciliados. São Paulo: Ed. Paulinas. 2002. p.114-115).
Todos temos alguma pedra na mão para jogar nos outros.
Estamos todos a caminho e, enquanto caminheiros, somos imperfeitos e limitados.
É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da
ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida plena do Homem Novo.
A única atitude que faz sentido, neste esquema, é assumir
para com os nossos irmãos a tolerância e a compaixão que Deus tem para com
todos os seres humanos. O mais importante não é acusar, mas que o amor seja
mais forte que as hipocrisias.
Mais uma vez, contemplamos na história da salvação, que o
agir de Deus não segue a lógica da morte, mas a lógica da vida. A proposta que
Deus faz às pessoas, através de seu Filho, não passa pela eliminação dos que
erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação, à
libertação de tudo o que oprime e escraviza.
“A imagem de Deus que Jesus nos revela “é a de Deus que
aceita o ser humano com sua fragilidade, o compreende e o perdoa porque o ama”.
“A misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco.
Deus é misericordioso, assim somos chamados também a sermos misericordiosos uns
com os outros” (MV, n.9).
Intensificando nosso retiro quaresmal rumo à Páscoa, pela
escuta da Palavra de Jesus, encontremo-nos com o Deus que ama e que nos diz:
“Eu não te condeno”. A dinâmica de Deus é uma dinâmica da misericórdia, pois só
o amor transforma e permite a superação das fragilidades humanas.
A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica
de vida. A proposta que Deus faz aos homens através de Jesus não passa pela
eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à
transformação, à libertação de tudo que oprime e escraviza.
Destruir ou matar em nome de Deus ou em nome de uma
qualquer moral é uma ofensa inqualificável a esse Deus da vida e do amor, que
apenas quer a realização plena do homem (Portal Dehoniano, 5º Domingo da
Quaresma, Ano C, cg. MV, n.9).
Que neste domingo, Jesus nos possibilite celebrar e
vivenciar o amor misericordioso de Deus Pai que reconcilia e deseja a
felicidade de todos os seus filhos e filhas.
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
A Eucaristia é sacramento de unidade, de comunhão. Para a
celebração eucarística, somos convidados a tomar parte, com nossas mãos repletas
de frutos, de uma vida pautada pela dinâmica do amor solidário. As mãos
carregadas de pedras não se abrem ao sacramento do amor.
Somente com um coração convertido, poderemos tomar parte
dignamente da Celebração Eucarística que começamos sempre nos reconhecendo
pecadores, confiantes na misericórdia de Deus e no perdão dos irmãos.
Como é possível apresentar-nos diante do altar, para
assentar à mesa da Palavra e da Eucaristia, se estivermos divididos, julgando e
condenando uns aos outros? O perdão recíproco é condição indispensável, antes
de achegarmo-nos às mesas, para recebermos o “Pão da Vida”.
A Eucaristia atualiza o perdão uma vez por ela se
apresenta a Deus Pai o sacrifício de Jesus pela remissão de nossos pecados. “Ó
Deus, que por vosso Filho realizais de modo admirável a reconciliação do gênero
humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se
aproximam, cheios de fervor e exultando de fé” (Oração do dia, 4º Domingo da
Quaresma).
A Eucaristia que celebramos é sacramento da misericórdia e
do perdão divino. Não a celebramos porque somos melhores do que os outros, e
nem somos perdoados porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito.
É por isso que, com a Igreja, rezamos: “Ó Deus, que
recompensais os méritos dos justos e perdoais aos pecadores que fazem
penitência, sede misericordioso para conosco: fazei que a confissão das nossas
culpas alcance o vosso perdão” (Oração do dia: Quarta-feira da quarta semana da
quaresma).
PRECES DOS FIÉIS
Presidente: Oremos ao Senhor que faz maravilhas, para que, se realize no
mundo, aquilo que anunciou pelos profetas, dizendo:
Senhor, tende piedade de nós!
1. Por todos os ministros ordenados
de nossa Igreja encontrem em Jesus Cristo o bem supremo e anunciem com grande
vigor no mundo de hoje, oremos:
2. Por todos os governantes, para que
a sabedoria com que Deus os enriquece sirva sempre para o bem dos cidadãos,
oremos:
3. Por todos os fiéis de nossa
comunidade paroquial, para que o sacramento da reconciliação lhes traga paz e
motivo a mais para se configurarem ao amor de Deus, oremos:
4. Por todos os batizados, que o
poder da Ressurreição de Jesus Cristo, nos façam almejar cada vez mais viver
com concórdia e unidade, oremos:
Presidente: Senhor, Nosso Deus, que em Jesus Cristo, vosso Filho, nos
revelastes as dimensões do perdão, dai-nos a graça de sermos misericordiosos
para com o próximo. Por Cristo, Senhor nosso.
Todos: Amém!
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente:
Deus todo-poderoso, concedei a vossos
filhos e filhas que, formados pelos ensinamentos da fé cristã, sejam
purificados por este sacrifício. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
ORAÇÃO PÓS-COMUNHÃO:
Presidente:
Concedei, ó Deus todo-poderoso, que
sejamos sempre contados entre os membros de Cristo, cujo Corpo e Sangue
comungamos. Por Cristo, nosso Senhor. Todos:
Amém.
V. RITOS FINAIS
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presidente: Deus, Pai de misericórdia, conceda a todos vocês como
concedeu ao filho pródigo, a alegria do retorno à casa.
Todos:
Amém.
Presidente:
O Senhor Jesus Cristo, modelo de
oração e de vida, os guie nesta caminhada quaresmal a uma verdadeira conversão.
Todos:
Amém.
Presidente:
O Espírito de sabedoria e fortaleza
os sustentem na luta contra o mal para poderem com Cristo celebrar a vitória da
Páscoa.
Todos:
Amém.
Presidente:
(Dá a bênção e despede a assembleia).