A Boa Nova: Deus enviou seu Filho
Cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, nascido
judeu de uma filha de Israel, em Belém, no tempo do rei Herodes Magno e do
imperador Cézar Augusto, carpinteiro de profissão, morto e crucificado em
Jerusalém, sob o procurador Pôncio Pilatos, durante o reinado do imperador
Tibério, é o Filho eterno de Deus feito homem; que ele “veio de Deus” (Jô
13,3), “desceu do céu” (Jô 3,13; 6,33), “veio na carne”, pois “o Verbo se fez
carne e habitou entre nós, e nós vimos sua glória, glória que ele tem junto ao
Pai, como Filho único, cheio de graça e de verdade... Pois de sua plenitude nós
recebemos graça por graça” (Jô 1,14-16).
Foi sobre a rocha desta fé, confessada por São Pedro, que Cristo construiu sua
Igreja.
Significado do Nome
JESUS
quer dizer, em hebraico, “Deus salva”. No momento da Anunciação, o anjo Gabriel
dá-lhe como nome próprio o nome de Jesus, que exprime ao mesmo tempo sua
identidade e missão. Uma vez que “só Deus pode perdoar os pecados” (Mc 2,7), é Ele que, em Jesus, seu Filho eterno
feito homem, “salvará seu povo dos pecados” (Mt
1,1). Em Jesus, portanto, Deus recapitula toda a sua história de
salvação em favor dos homens.
O nome de Jesus significa
que o próprio nome de Deus está presente na pessoa de seu Filho, feito homem
para a redenção universal e definitiva dos pecados. É o único nome divino que
traz a salvação e a partir de agora pode ser invocado por todos, pois se uniu a
todos os homens pela Encarnação, de sorte que “não existe debaixo do céu outro
nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12).
O nome de Jesus está no
cerne da oração cristã. Todas as orações litúrgicas são concluídas pela fórmula
“por Nosso Senhor Jesus Cristo...”. A “Ave-Maria” culmina no “e bendito é o
fruto do vosso ventre, Jesus”. A oração oriental do coração denominada “oração
a Jesus” diz: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim,
pecador”.
CRISTO
vem da tradução grega do termo hebraico “Messias”, que quer dizer “ungido”. Só se
torna o nome próprio de Jesus porque este leva à perfeição a missão divina que
significa. Com efeito, em Israel eram ungidos em nome de Deus os que lhe eram
consagrados para uma missão vinda dele. Era o caso dos reis, dos sacerdotes e,
em raras ocasiões, dos profetas. Esse devia ser por excelência o caso do
Messias que Deus enviaria para instaurar definitivamente seu Reino. O Messias
devia ser ungido pelo Espírito do Senhor, ao mesmo tempo, como rei e sacerdote,
mas também como profeta. Jesus realizou a esperança messiânica de Israel em sua
tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
O anjo anunciou aos pastores
o nascimento de Jesus como o do Messias prometido a Israel. José foi chamado
por Deus “a receber Maria, sua mulher”, grávida “daquele que foi gerado nela
pelo Espírito Santo” (Mt 1,21), para que
Jesus, “que se chama Cristo”, nascesse da esposa de José na descendência
messiânica de Davi (Mt 1,16).
A consagração messiânica de
Jesus manifesta sua missão divina. “É, aliás, o que indica seu próprio nome,
pois no nome de Cristo está subentendido Aquele que ungiu, Aquele que foi
ungido e a própria Unção com que ele foi ungido: Aquele que ungiu é o Pai,
Aquele que foi ungido é o Filho, e o foi no Espírito, que é a Unção”. Sua
consagração messiânica eterna revelou-se no tempo de sua vida terrestre, por
ocasião de seu Batismo por João, quando “Deus o ungiu com o Espírito Santo e
poder” (At 10,38), “para que ele fosse
manifestado a Israel” (Jô 1,31) como seu
Messias. Por suas obras e palavras será conhecido como “o Santo de Deus”.
O Filho de Deus se fez homem
Com o Credo niceno-constantinopolitano, respondemos,
confessando: “E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e se
encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem.
O Verbo se fez carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus: “Foi Ele que nos amou e
enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados” (1Jo 4,10);
O Verbo se fez carne para que, assim, conhecêssemos o amor de Deus “Nisto manifestou-se o
amor de Deus por nós: “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho Único, a
fim de que todo o que crer nele não pereça, mas tenha a Vida Eterna” (Jô 3,16);
O Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida;
ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jô
14,6). Pois Ele é o modelo das Bem-aventuranças e a norma da Nova Lei:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jô
15,12). Este amor implica a oferta efetiva de si mesmo em seu
seguimento;
O Verbo se fez carne para tornar-nos “participantes da natureza divina” (2Pd 1,4): “Pois esta é a razão pela qual o Verbo
se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: é para que o homem, entrando
em comunhão com o Verbo e recebendo, assim,
filiação divina, se torne filho de Deus”.
“Pois o Filho de Deus se fez homem para nos fazer
Deus”: O Filho Unigênito de Deus, querendo-nos participantes de sua divindade,
assumiu nossa natureza para que aquele que se fez homem dos homens fizesse
deuses.
A Encarnação
Retomando a expressão de São João (“O Verbo se fez
carne” – Jô 1,14), a Igreja denomina
“Encarnação” o fato de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para
realizar nela a nossa salvação. Em um hino atestado por São Paulo, a Igreja
canta o mistério da Encarnação:
Tende em vós
o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não
considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas
esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança
humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte,
e morte de cruz! (Fl 2,5-8).
A fé na Encarnação verdadeira do Filho de Deus é o
sinal distintivo da fé cristã: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus. Todo
espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus” (1Jo 4,2). Esta é a alegre convicção da Igreja
desde o seu começo, quando canta “o grande mistério da piedade”: “Ele foi
manifestado na carne” (1Tm 3,16).
Verdadeiro Deus e verdadeiro homem
O acontecimento único e totalmente singular da
Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e
em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla confusa entre o divino e
o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro Deus. Jesus
Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Igreja teve de defender e
clarificar esta verdade de fé no decurso dos primeiros séculos, diante das
heresias que a falsificavam.
Na humanidade de Cristo, tudo deve ser atribuído à
sua pessoa divina como ao seu sujeito próprio; não somente os milagres, mas
também os sofrimentos, e até a morte: “Aquele que foi crucificado na carne,
nosso Senhor Jesus Cristo, é verdadeiro Deus, Senhor da glória e Um da
Santíssima Trindade”.
A Igreja confessa, assim, que Jesus é inseparavelmente
verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele é verdadeiramente o Filho de Deus que
se fez homem, nosso irmão, e isto sem deixar de ser Deus, nosso Senhor.
Como o Filho de Deus é homem?
Uma vez que na união misteriosa da Encarnação “a
natureza humana foi assumida, não aniquilada”, a Igreja tem sido levada, ao
longo dos séculos, a confessar a plena realidade da alma humana, com suas
operações de inteligência e vontade, e a do corpo humano de Cristo.
Tudo o que Cristo é e o que faz nela depende do “Um
da Trindade”. Por conseguinte, o Filho de Deus comunica à sua humanidade seu
próprio modo de existir pessoal na Trindade. Assim, em sua alma como em seu
corpo, Cristo exprime humanamente os modos divinos de agir da Trindade.
A Alma e o conhecimento humano de Cristo
A alma humana que o Filho de Deus assumiu é dotada
de um verdadeiro conhecimento humano. Enquanto tal, este não podia ser em si
ilimitado: exercia-se nas condições históricas de sua existência no espaço e no
tempo. Por isso o Filho de Deus, ao tornar-se homem, pôde aceitar “crescer em
sabedoria, em estatura e em graça” (Lc
2,52) e também informar-se sobre aquilo que na condição humana se deve
aprender de maneira experimental. Isto correspondia à realidade de seu
rebaixamento voluntário na “condição de escravo”.
Mas, ao mesmo tempo, este conhecimento
verdadeiramente humano do Filho de Deus exprimia a vida divina de sua pessoa.
“A natureza do Filho de Deus, não por si
mesma, mas por sua união ao Verbo, conhecia e manifestava nela tudo o que
convém a Deus”. Este é, em primeiro lugar, o caso do conhecimento íntimo e
direto que o Filho de Deus feito homem tem de seu Pai. O Filho mostrava também
em seu conhecimento humano a penetração divina que tinha dos pensamentos
secretos do coração dos homens.
A vontade humana de Cristo
Paralelamente, a Igreja confessou no VI Concílio
Ecumênico que Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e
humanas, não opostas, mas cooperantes, de sorte que o Verbo feito carne quis
humanamente na obediência a seu Pai tudo o que decidiu divinamente com o Pai e
o Espírito Santo por nossa salvação. A vontade humana de Cristo “segue a sua
vontade divina, sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela, mas
antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa”.
Sua missão: O anúncio do Reino de Deus
Todos os
homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de
Israel, este Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as
nações. Para ter acesso a ele, é preciso acolher a palavra de Jesus:
Pois a
palavra do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem com fé
e são contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino;
depois, por sua própria força, a semente germina e cresce até o tempo da messe.
O Reino pertence aos
pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde.
Jesus é enviado para “evangelizar os pobres” (Lc 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois o
“Reino dos Céus é deles” (Mt 5,3); foi aos “pequenos” que o Pai se dignou
revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos.
Jesus convida os
pecadores a mesa do Reino: “Não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2,17). Convida-os à conversão, sem a qual não
se pode entrar no Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e atos, a
misericórdia sem limites do Pai por eles e a imensa “alegria no céu por um
único pecador que se arrepende” (Lc
15,7). A prova suprema deste amor será o sacrifício de sua própria vida
“em remissão dos pecados” (Mt 26,28).
Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, traço típico de seu
ensinamento. Por elas, convida ao festim do Reino, mas exige também uma opção
radical: para adquirir o Reino, é preciso dar tudo; as palavras não bastam, são
necessários atos. É preciso entrar no Reino, isto é, tornar-se discípulos de
Cristo para “conhecer os mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13,11). Para os que ficam “de fora” (Mc 4,11), tudo permanece enigmático.
Os sinais do Reino de Deus
Jesus acompanha suas palavras com numerosos “milagres,
prodígios e sinais” (At 2,22) que
manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias
anunciado.
Os sinais operados por Jesus testemunham que o Pai o
enviou. Convidam a crer nele. Aos que a Ele se dirigem com fé concede o que
pedem. Assim, os milagres fortificam a fé naquele que realiza as obras de seu
Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus.
Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da
fome, da injustiça, da doença e da morte, Jesus operou sinais messiânicos; não
veio, no entanto, para abolir todos os males da terra,mas para libertar os
homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava em sua
vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões humanas.
O advento do Reino de Deus é a derrota do reino de
Satanás: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino
de Deus já chegou a vós” (Mt 12,28).