Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
A Igreja sempre reservou uma especial atenção ao tema da formação sacerdotal. O estudo da história da Igreja mostra-nos a delicadeza e a importância da formação sacerdotal, desde os tempos apostólicos até os nossos dias. Pode-se delinear facilmente as etapas fundamentais deste caminho, tendo presente os momentos históricos da Igreja e os condicionamentos socioculturais vividos.
A exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, de São João Paulo II, recorda atualmente que a formação dos futuros sacerdotes, sejam diocesanos ou não, é de contínuo cuidado e se alarga durante todo o curso da vida. É por isso que é considerada pela Igreja como uma das tarefas de máxima delicadeza e importância para o futuro da evangelização da humanidade.
A formação seminarística e o modelo de sacerdote são duas realidades intrinsecamente ligadas entre si. Não tem como prever como será a sociedade amanhã, mas o essencial da formação para que o futuro padre possa viver e atuar com alegria deve estar presente hoje. Isso é bem claro quando recordamos os últimos 50 anos. Quem poderia prever as mudanças sociais, econômicas, políticas e religiosas? Houve aqueles que entraram em crise e saíram, mas a maioria permaneceu. Tinham uma formação não para uma situação específica, mas para todas as possibilidades que pudessem encontrar pela vida. A união da formação com a figura do padre não pode ser reducionista, como se formássemos dentro de um esquema pré-concebido. A abertura à ação do Espírito Santo e com os princípios que devem nortear a vida cristã e a vida do padre marcam esse tempo importantíssimo. A formação mesma não pode ser separada da imagem do sacerdote e seu modo de viver dentro da sociedade.
O seminário tridentino, com suas estruturas baseadas sobre os pilares da formação ao sacerdócio, a piedade, o estudo e a disciplina, havia dado respostas históricas adaptadas a seus tempos. A preparação seminarística, dentro do espírito da época, era igual para todos, qualquer que fosse a proveniência do futuro sacerdote e sua situação humana e cultural antes do ingresso no seminário. Porém, a transformação radical que o mundo sofreu nos últimos tempos provocou na Igreja crises e perguntas a que muitos souberam responder muito bem, embora outros não tanto.
A reflexão sobre a relação da Igreja com o mundo, aprofundada no Concílio Ecumênico Vaticano II, apresentou uma adaptada concepção de convivência e de relação entre comunidade eclesial e sociedade. Porém, o clima de secularização, descristianização e com a crise de fé dos últimos anos, há muito o que pensar novamente, até quem se dedica a servir o povo de Deus.
Um contexto sociocultural de clara inspiração cristã, que antigamente assegurava uma maior fidelidade ao estilo de vida das pessoas que elogiam a vocação sacerdotal ou da vida religiosa, desapareceu na maioria das sociedades. Em consequência, frente a uma sociedade laicista, o modelo de sacerdote, seu modo de ser, seu modo de trabalhar e de relacionar-se tem despertado dificuldades de compreensão. É, portanto, necessária, nestes tempos, uma preparação que ajude o jovem a se posicionar diante dessa “mudança de época”. Em vista de tais modelos diferentes, é que a preparação ao sacerdócio dos futuros padres tem sido diversificada, e não somente em seu aspecto cultural e humano, mas também em como transmitir a verdade de sempre anunciando a Boa Nova.
O Seminário Arquidiocesano São José completa 277 anos de missão. Em 1739, o Seminário São José é fundado pelo Bispo Dom Antônio de Guadalupe, OFM. As primeiras instalações do Seminário situavam-se na encosta do Morro do Castelo, no início da ladeira que seria mais tarde chamada de “Ladeira do Seminário”.
Em 1869, Dom Pedro Lacerda transfere a administração do Seminário aos Lazaristas. Essa mudança provavelmente se deu pela dificuldade em encontrar padres formadores. Já que ele mesmo havia sido formado com os religiosos, supõe-se que eles facilitaram a mudança. Em 1907, o Seminário é fechado por problemas internos da Igreja no Brasil, que pretendia centralizar a formação sacerdotal nos Seminários de São Paulo e Mariana.
Em 1924, o Seminário Arquidiocesano é reaberto na Ilha de Paquetá. As instalações do Rio Comprido estavam ocupadas pelos Maristas. Em 1948, o Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara termina a construção do novo prédio à beira da Avenida Paulo de Frontin (onde hoje está instalada uma universidade) e, anos depois, constrói outro edifício para o Seminário Menor, que é ocupado hoje parcialmente pela Filosofia do Seminário. Em 1985, é construído, sob o governo do Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, o novo prédio para o Seminário Maior, prédio que hoje é ocupado pela Teologia, pelo Instituto de Filosofia João Paulo II, pelo Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro e pelo Instituto Superior de Direito Canônico da Arquidiocese. Uma motivação da mudança foi a construção do Elevado Paulo de Frontin, que causava um enorme barulho, impossibilitando o estudo.
Em 2003, o Seminário Menor é encerrado sob o governo do Cardeal Dom Eusébio Oscar Scheidt, porém agora retomado em novos parâmetros. Nesse ano também é criado o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos, com sede localizada na Rua Conde de Bonfim na Tijuca. Em 2012, o Seminário Rainha dos Apóstolos é transferido para a sede atual do Rio Comprido e a casa da Rua Conde de Bonfim foi destinada ao Seminário Missionário.
Os nossos seminários abrigam também vocações provenientes de outras dioceses do regional leste 1, do centro oeste e do nordeste. Isso nos ajuda a viver a diversidade cultural do Brasil, abrindo horizontes novos na convivência diária. É uma contribuição da Arquidiocese do Rio de Janeiro com o futuro vocacional dessas comunidades eclesiais, que acolhemos com carinho.
Neste Ano da Misericórdia um dos enfoques pastorais é a vocação do padre para ser misericordioso, e, a partir de outubro próximo, com o Ano Mariano e da Família, o enfoque vocacional será contemplar Maria como mãe dos vocacionados e a importância da família em discernir as vocações em seu seio. Na vida das paróquias será criar pastoral vocacional e OVS onde ainda não existem.
Que pela Intercessão de São José, Patrono do nosso Seminário, possa surgir inúmeras e santas vocações. Ser padre é doar e ser homem que aponta a seus fiéis a misericórdia e o amor de Deus. Agradeço a todos que apoiam os nossos seminários, seja com o auxílio direto, seja com as orações, ou com os vários trabalhos. Rezemos para que o Senhor continue enviando operários para a sua messe, pois ela é grande e os operários são poucos.
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