Entrevista com Irmão Nery fsc
Iniciamos no mês passado uma série de artigos preparatórios ao PRIMEIRO CONGRESSO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORAL, que acontecerá em Goiânia, GO, nos dias 8 a 12 de outubro de 2011. Irmão Nery fsc, Presidente de SCALA (Sociedade de Catequetas Latinoamericanos) e membro do RECAT (Grupo de Reflexão Catequética da CNBB), concede esta entrevista à Maria Cecília Rover, Assessora Nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico Catequética.
Maria Cecília: O Documento de Aparecida fala em “Animação Bíblica da Pastoral” (ABP). Há alguma diferença com relação à Pastoral Bíblica?
Irmão Nery: Há, sim. Vamos por partes. A “Pastoral Bíblica” predominou do Concílio Vaticano II (1962-1965) para cá, fez e faz um enorme bem aos fiéis e à Igreja. Sua função principal é cumprir o que pede o Concílio através da Constituição Dogmática sobre a Palavra de Deus, a Dei Verbum: que todos os fiéis tenham acesso as Sagradas Escrituras. E, nesse ponto, o Brasil foi privilegiado com 17 traduções da Bíblia, várias instituições para ajudar os católicos a terem uma boa introdução à Bíblia. Entre elas se destaca o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI). Mas há numerosas outras iniciativas de oração e vivência da Palavra de Deus, como os Círculos Bíblicos e a Leitura Orante da Palavra.
Maria Cecília: E a Animação Bíblica da Pastoral? Em que consiste?
Irmão Nery: Os Bispos em Aparecida solicitam um passo a mais em relação à Pastoral Bíblica. Não basta que todos os fiéis tenham acesso às Escrituras e tenham uma boa iniciação à Bíblia. É preciso que tudo na Igreja parta da Palavra de Deus, nela se inspire e se fundamente e dela se alimente, desde a vida pessoal de cada fiel até a Igreja como um todo. Que a Palavra de Deus perpasse, portanto, todas as pastorais, congregações religiosas, movimentos, seminários, lideranças da Igreja (bispos, presbíteros, ministros, coordenadores...). Que a Palavra de Deus passe a ser a alma que dinamize profunda e abrangentemente a Igreja.
Maria Cecília: Você poderia destacar os números onde, no Documento de Aparecida, fala em Animação Bíblica da Pastoral, neste sentido a que o senhor se refere?
Irmão Nery: Primeiramente há, no nº 99a um reconhecimento que esta Animação Bíblica da Pastoral já existe em algumas Igrejas na América Latina e no Caribe: “Devido à Animação Bíblica da Pastoral, aumenta o conhecimento da Palavra de Deus e do amor por ela”. Depois, os bispos dão, no nº 248 do Documento, preciosas orientações. “Os discípulos de Jesus desejam (...) que os textos bíblicos (...) sejam alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus a todos. Por isso, a importância de uma “pastoral bíblica” entendida como animação bíblica da pastoral, que seja escola de interpretação ou conhecimento da Palavra, de comunhão com Jesus ou oração com a Palavra, e de evangelização inculturada e proclamação da Palavra. Isso exige, da parte dos bispos, presbíteros, diáconos e ministros leigos da Palavra, uma aproximação à Sagrada Escritura que não seja só intelectual, mas com coração “faminto de ouvir a Palavra de Deus” (Am 8, 11).
Maria Cecília: Que riqueza de orientações e que impulso, não é mesmo?
Irmão Nery: Sem dúvida. E gostaria de destacar alguns elementos nesse texto de Aparecida:
1) A Palavra de Deus como “alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus”;
2) “Pastoral Bíblica” entendida como “Animação Bíblica da Pastoral” (ABP);
3) três ingredientes simultâneos e complementares para a animação: a) conhecimento e interpretação da Palavra de Deus; b) A Palavra de Deus como melhor caminho de comunhão com o Senhor; c) A palavra de Deus como base principal da evangelização inculturada;
4) a necessidade de converter as lideranças da Igreja (bispos, presbíteros, diáconos, ministros leigos..) para um novo modo de ler, interpretar e pregar a Palavra de Deus, a fim de que esse processo de animação bíblica da pastoral se torne uma realidade.
Maria Cecília: A Animação Bíblica da Pastoral vai ajudar no processo de conversão dos próprios católicos?
Irmão Nery. Sem dúvida. Aparecida insiste na necessidade de um processo novo para formar discípulos missionários de Jesus Cristo, para evangelizar verdadeiramente a sociedade: é a Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal e a conversão da pastoral. Ora, dentro da pastoral orgânica e segundo a eclesiologia de comunhão e participação, a ABP tem por objetivo maior revigorar com a Palavra de Deus escrita, proclamada, meditada e vivida a cada fiel para ser um dinâmico discípulo missionário e, também, a toda instância pastoral de modo a fazer com que tudo na Igreja favoreça e aprofunde o “encontro pessoal com Jesus Cristo vivo”, caminho para “um autêntico processo de conversão, comunhão e solidariedade” (cf. João Paulo II, Ecclesia in America, 3, 8).
Maria Cecília: Mas já há Animação Bíblica da Pastoral no Brasil?
Irmão Nery: Sim. Alguns passos já foram dados e outros estão sendo propostos. Há publicações que ajudam a esclarecer a diferença e complementação entre Pastoral Bíblica e Animação Bíblica da Pastoral. Há seminários e encontros com esta finalidade.
Há, inclusive, dioceses e regiões pastorais que formaram a Comissão de Animação Bíblica da Pastoral. O Primeiro Congresso Brasileiro de Animação Bíblica da Pastoral, com uns 500 participantes, vindos dos 17 regionais de CNBB, em outubro de 2011 será um momento de síntese avaliativa da caminhada e de um especial impulso à ABP. E, sem dúvida, toda a mobilização sobre a ABP será uma preciosa contribuição para a renovação da Igreja sob o impulso de Aparecida e da Missão Continental.