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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética
3ª Semana Brasileira de Catequese
Itaici-SP, 6 a 11 de outubro de 2009
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CATEQUESE, CAMINHO PARA O DISCIPULADO
Dom Juventino Kestering
A III Semana Nacional de Catequese cria uma série de expectativas. Daí nossa responsabilidade de captar as esperanças e ao mesmo tempo ajudar a buscar novos caminhos.
O tema proposto neste painel “Catequese: Caminho para o discipulado” remete para o âmago da compreensão da catequese, bem como aponta para os rumos que a catequese deve seguir especialmente a comunidade como lugar da experiência do discipulado. Sem esquecer as crianças e jovens, mas os adultos são os primeiros interlocutores e a preocupação básica do cuidado pastoral. Adultos urbanizados, imbuídos das tecnologias com acesso às informações diversificadas e plurais.1
A reflexão sobre o discipulado nos remete para o antigo Testamento. Foi uma prática no judaísmo e nas em diversas manifestações religiosas de povos e culturas. Um mestre com discípulos. A novidade em Jesus Cristo reside na nova prática: Não é o discípulo que escolhe o mestre, mas o Mestre que escolhe os discípulos e ainda mais, os discípulos não são escolhidos para seguir uma doutrina, uma filosofia de vida, mas para seguir alguém, Jesus Cristo.
A Igreja primitiva viveu intensamente a experiência dos seguidores de Jesus Cristo como discípulos. “O Evangelho conservava-se íntegro e vivo na Igreja: os discípulos de Jesus o contemplavam e o meditavam incessantemente, vivem-no na existência cotidiana e anunciam na missão”2.
Ao longo dos séculos este tema foi sendo reduzido a ponto de quase entrar no esquecimento da prática pastoral. Com o Concílio Vaticano II houve uma renovação na Igreja, especialmente com Lúmen Gentium. A Igreja com a missão de “iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja (LG 1); com a Gaudium et Spes, “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS 1).
Para a catequese o tema do discipulado retomou com toda a força a partir do Diretório Geral de Catequese 3. Afirma que “a fé é um encontro pessoal com Jesus Cristo, é tornar-se seu discípulo... assim, o crente se une à comunidade dos discípulos e assume, como sua, a fé da igreja” (DNC 53). “A catequese não é uma ação facultativa, mas sim uma ação basilar e fundamental para a construção, tanto da personalidade do discípulo, quanto da comunidade” (64) “A comunidade dos discípulos de Jesus, a igreja, compartilha hoje a mesma sensibilidade que teve, então, o Seu mestre” (103).
1 Documento de Aparecida, edições CNBB, nº 36.39.44
2 Congregação para o Clero – “Diretório Geral para a Catequese”, nº 43
3 Diretório Geral para a Catequese, da Congregação para o Clero, publicado aos 15 de agosto de 1997, expressa o pensamento de João Paulo II sobre a catequese.
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O Diretório Nacional de Catequese4 acentuou o discipulado como núcleo da catequese.
“O fruto da evangelização e catequese é o fazer discípulos: acolher a palavra, aceitar Deus na própria vida, como dom da fé”. “O discipulado, que é o aprofundamento do seguimento, implica renúncia a tudo o quer se opõe ao projeto de Deus e que diminui a pessoa. Leva à proximidade e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão” (34). Essa afirmação torna-se inspiração para todo texto do Diretório Nacional de Catequese.
Por ocasião da aprovação do Diretório Nacional de Catequese já estava em andamento a preparação da V Conferência de Aparecida e as tendências apontavam para o discipulado. A III Semana Brasileira de catequese brotou da junção de três inspirações que se resumem no tema: “Catequese, caminho para o discipulado” e no lema: “Nosso coração arde quando Ele fala, explica as Escrituras e parte o pão” (cf Lc 24,32-35).
A primeira inspiração: a Bíblia. A prática de Jesus foi de acercar-se de discípulos. Ele os chamava, instruía e enviava em missão. O envio missionário implica em formar discípulos “ide, pois fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até os fins dos tempos” (Mt 28,19-20).
Em Jesus o “discípulo experimenta que a vinculação íntima com Jesus nos grupos dos seus é a participação da Vida saída das entranhas do Pai, é formar-se para assumir seu estilo de vida e suas motivações, correr sua mesma sorte e assumir a sua missão de fazer novas todas as coisas” (DAp 131). Em Atos dos Apóstolos encontramos os frutos do envio missionário de Jesus; “E cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que estavam sendo salvas” (At 2,47). “Entretanto crescia sempre o número dos que pela fé aderiam ao Senhor, uma multidão de homens e mulheres” (At 5, 14).
A segunda inspiração: O Documento da V Conferencia de Aparecida5. O núcleo central do documento de Aparecida situa-se na passagem do cristão fiel para o cristão discípulo missionário e na conseqüente exigência de formação do discípulo missionário. “O acontecimento de Cristo, é portanto, o início desse sujeito novo que surge na história e a quem chamamos discípulo: Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, um orientação decisiva” (DAp 243). Mas lembra que “o encontro com Jesus Cristo através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo. Da contemplação do rosto sofredor de Cristo neles e do encontro com Ele nos aflitos e marginalizados, cuja imensa dignidade Ele mesmo nos revela, surge nossa opção por eles” (DA 257). Insiste ainda que “a vocação e o compromisso de ser hoje discípulos e missionários de Jesus Cristo... requer clara e decidida opção pela formação dos membros de nossas comunidades, a favor de todos os batizados, qualquer que seja a missão que desenvolvem na igreja” (DA 276). Essa formação requer o processo de encontro com Jesus Cristo, a conversão, o caminho do discipulado, a comunhão com a comunidade e a igreja e a missão
como prática do ser cristão hoje (cf DA 278), “pois ser discípulo é dom destinado a crescer”
(DA 292). Disso decorre a importância para a igreja e para a catequese da iniciação cristã. “A iniciação cristã nos desafia a imaginar e organizar novas formas de nos aproximar das pessoas para ajudá-las a valorizar o sentido da vida sacramental, a participação comunitária e os compromissos do cristão como discípulo missionário. É preciso assumir a iniciação cristã com decisão, coragem e criatividade, visto que muitos cristãos têm uma vida fragmentada e sem muita convicção em sua fé” (cf DA 286-287).
4 Texto aprovado pela 43ª Assembléia da CNBB, nos dias 09 a 17 de agosto de 2005
5 A V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho aconteceu na Basílica de Aparecida, de 13 a 31 de maio de 2007 com o tema: “Discípulos missionários de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida”. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
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A terceira inspiração. O Diretório Nacional de Catequese Ainda no processo de elaboração do Diretório já se levantava a possibilidade de realizar um grande evento que impulsionasse a dinamização e a divulgação do Diretório Nacional de catequese na pastoral, na catequese e na renovação da vida dos cristãos. A citada frase “O fruto da catequese é o de fazer discípulos”, soou como um toque de alerta. É preciso dar um passo a mais. Mais do que catequese de etapas, mais do que preparar para algum sacramento, mais do que informar sobre a fé, a Igreja, os sacramentos é preciso assumir um novo modo de catequese em nossa realidade. O mundo mudou, há uma mudança de época e épocas de mudanças profundas que atingem e questionam a fé e o nosso agir como cristão (DA 36 a 44). Deste contexto brotou o tema: “Catequese, caminho para o discipulado” amplamente trabalhado em todo o Brasil com muitas iniciativas, encontros, estudos, jornada, publicações e que culmina com essa III Semana Brasileira de Catequese.
O Diretório Geral para a Catequese define a catequese como “ação catequética e de iniciação para aqueles que optam pelo Evangelho e para aqueles que necessitam completar ou reestruturar a sua iniciação” (DGC 49). Já o Diretório Nacional de Catequese insiste que “o fruto da evangelização e catequese é o fazer discípulos” com forte insistência de que na realidade atual do Brasil, a transmissão da fé perde seu espaço na família, na comunidade e no contexto da sociedade e passa pelo caminho da opção e muitas vezes em decorrência da atração e emoção. É urgente que a catequese esteja intimamente vinculada á evangelização.
Daí a insistência numa catequese evangelizadora (DNC 33).
Caminho para o discipulado. Catequese é um dos caminhos da ação evangelizadora da Igreja. Mas um caminho interligado com outros caminhos, como a liturgia, a dimensão social da fé, ecumenismo, dimensão missionária. Porem a catequese não é qualquer caminho.
O DNC afirma “que a catequese é um ato essencialmente eclesial” (DNC 233). Não é uma ação particular. A igreja se edifica a partir da pregação do Evangelho, da Catequese e da Liturgia tendo como centro a celebração da eucaristia. “A catequese de iniciação lança as bases da vida cristã naqueles que seguem Jesus” (DGC 69).
O Texto Base de preparação do Ano Catequético se inspira na experiência do caminho dos discípulos de Emaús. É no caminho que a comunidade, os catequizandos, sejam adultos, jovens ou adolescentes vão aprendendo a caminhar, ouvir e agir com o Mestre. O discípulo missionário se põe a caminho. O texto de Emaús relata a mudança de rumo que tomou conta da vida dos discípulos. Aqui está o ponto essencial para a catequese.
Como fazer com que os catequizandos, interlocutores, adultos, jovens, crianças, família não só passem pela catequese, mas que neste processo realizem uma mudança de vida, busquem um novo rumo para a vida, se transformem e se façam discípulos missionários?
É no caminhar, na persistência, na busca, nas motivações, nas descobertas que a pessoa vai se encontrando com Jesus Cristo, com a comunidade e com a missão. É importante o primeiro passo: O Kerigma, o encontro entusiasmante com Jesus Cristo. Mas é preciso caminhar para o segundo passo: A conversão, o seguimento, a persistência, o aprofundamento. Mas não pode parar por aí. O caminho é para um terceiro passo. O discípulo missionário, o engajamento, a transformação da realidade, a sua inserção nas profissões, na família, no mundo do trabalho, da política, das profissões e aí permear com os valores do Evangelho, da ética e da cidadania.
Discipulado. Apesar de ser uma expressão amplamente presente na missão de Jesus, da Igreja primitiva e trabalhada na V Conferencia de Aparecida essa palavra, sua implicação e prática, ainda não foram incorporadas pela experiência dos cristãos de nossas comunidades. A palavra “discípulo” ainda remete para alguns, para algo distante.
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Mas o Diretório Nacional de Catequese, as Diretrizes da Ação Pastoral da Igreja no Brasil, a Conferência de Aparecida tiveram a inspiração de aproximar o significado para o cotidiano dos cristãos. Cresce a compreensão de que discípulo não é um chamado especial, mas é o chamado de todos os batizados.
Aqui a catequese tem uma longa, mas urgente missão. Catequese é caminho para o discipulado. Há muita gente deixando Jerusalém e caminhando para Emaús, tristes, desiludidos, abatidos, sofridos, machucados, desencantados, perdidos, quer entre adultos, jovens, crianças, idosos, nas periferias, nos centros urbanos, nos condomínios e prédios, no campo, na universidade. Poucos têm possibilidade de encontrar um caminhante, um catequista, um/a evangelizador/a que se aproxima, escuta, explica, aquece o coração e a mente, sinaliza para o rito gestual de Jesus de partir o pão e o reconhecer no caminho e ajudar a fazer a mesma experiência dos discípulos de Emaús. “Neste momento, seus olhos se abriram, e eles o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles. Então um disse ao outro: Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os Onze e os outros discípulos. E confirmaram: Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão. Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir o pão” (Lc 24,33-35).
Para concluir recordo as palavras de Bento XVI. “Um grande meio para introduzir o povo de Deus no Mistério de Cristo é a catequese. Nela se transmite de forma simples e substancial a mensagem de Cristo. Portanto, convém intensificar a catequese e a formação na fé tanto das crianças, jovens e adultos. A reflexão madura da fé é luz para o caminho da vida e força para ser testemunha de Cristo” (Bento XVI na sessão inaugural da Vª Conferencia do CELAM em Aparecida).
E conforme o Diretório Nacional de Catequese: “A catequese ajuda a pessoa a ser inteiramente impregnada pelo Mistério de Cristo, à luz da Palavra. Ela, no conjunto da evangelização corresponde ao período em que o cristão, depois de ter aceitado pela fé a pessoa de Jesus Cristo, como único Senhor e após lhe ter dado uma adesão por uma sincera conversão do coração, se esforça por melhor conhecer o mesmo Jesus Cristo, ao qual se entregou; conhecer a sua mensagem evangélica e os caminhos que ele traçou para aqueles que o querem seguir” (DNC 328).
Dom Juventino Kestering
III Semana Brasileira de Catequese, Itaici, 6 a 11 de outubro de 2009