A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva
passa também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa,
voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação
às pessoas com deficiências.
Adolescente normal
TERMO CORRETO: adolescente (criança,
adulto) sem deficiência ou, ainda, adolescente (criança,
adulto) não-deficiente.
Aleijado; defeituoso; incapacitado;
inválido
Pessoas com deficiência,
“Apesar de deficiente, ele é um ótimo
aluno”
FRASE CORRETA: “ele tem deficiência e é um ótimo
aluno”
“Aquela criança não é inteligente”
Todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria
das Inteligências Múltiplas. Até o presente, foi comprovada a existência de oito
tipos de inteligência (lógico-matemática, verbal-lingüística, interpessoal,
intrapessoal, musical, naturalista, corporal-cinestésica e visual-espacial).
FRASE CORRETA: “aquela criança é menos desenvolvida na inteligência [por
ex.] lógico-matemática”
Cadeira
de rodas elétrica
Trata-se de uma cadeira de rodas equipada com um
motor. TERMO CORRETO: cadeira de rodas motorizada
Ceguinho
TERMOS CORRETOS: cego; pessoa cega; pessoa com
deficiência visual; deficiente visual.
Classe normal
TERMOS CORRETOS: classe comum; classe regular.
No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da
palavra classe sem adjetivá-la.
Criança excepcional
TERMO CORRETO: criança com deficiência mental. Excepcionais foi o termo
utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas deficientes mentais.
Com o surgimento de estudos e práticas educacionais na área de altas
habilidades ou talentos extraordinários nas décadas de 80 e 90, o termo
excepcionais passou a referir-se a pessoas com inteligência
lógica-matemática abaixo da média (pessoas com deficiência mental) e a pessoas
com inteligências múltiplas acima da média (pessoas superdotadas ou com altas
habilidades e gênios).
Defeituoso físico
TERMO CORRETO: pessoa com deficiência física
Deficiências físicas (como nome genérico englobando todos os tipos de
deficiência).
TERMO CORRETO: deficiências
Deficientes físicos (referindo-se a pessoas com qualquer tipo de
deficiência).
TERMO CORRETO: pessoas com deficiência
Deficiência mental leve, moderada, severa,
profunda
TERMO CORRETO: deficiência mental (sem
especificar nível de comprometimento).
Deficiente mental (referindo-se à pessoa com transtorno mental)
TERMOS CORRETOS: pessoa com doença mental, pessoa
com transtorno mental, paciente psiquiátrico
Doente mental (referindo-se à pessoa com déficit intelectual)
TERMOS CORRETOS: pessoa com deficiência mental,
pessoa deficiente mental. O termo deficiente, quando usado
como substantivo (por ex.: o deficiente físico, o deficiente mental),
tende a desaparecer, exceto em títulos de matérias jornalísticas.
“Ela é cega
mas mora sozinha”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Todo
cego não é capaz de morar sozinho’. FRASE CORRETA: “ela é cega e mora
sozinha”
“Ela é retardada mental mas é uma atleta
excepcional”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Toda
pessoa com deficiência mental não tem capacidade para ser atleta’. FRASE
CORRETA: “ela tem deficiência mental e se destaca como atleta”
“Ela é surda [ou cega] mas não é retardada
mental”
A frase acima contém um preconceito: ‘Todo surdo ou
cego tem retardo mental’. Retardada mental, retardamento mental e
retardo mental são termos do passado. FRASE CORRETA: “ela é surda [ou
cega] e não tem deficiência mental”
“Ela foi vítima de paralisia infantil”
A poliomielite já ocorreu nesta pessoa (por ex., ‘ela
teve pólio’). Enquanto a pessoa estiver viva, ela tem seqüela de
poliomielite. A palavra vítima provoca sentimento de piedade. FRASE
CORRETA: “ela teve [flexão no passado] paralisia
infantil” e/ou “ela tem [flexão no presente]
seqüela de paralisia infantil”
“Ela teve paralisia cerebral” (referindo-se a uma pessoa no presente)
A paralisa cerebral permanece com a pessoa por toda a
vida. FRASE CORRETA: ela tem paralisia cerebral
“Ele atravessou a fronteira da normalidade
quando sofreu um acidente de carro e ficou deficiente”
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito
questionável. A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e,
por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ele teve um
acidente de carro que o deixou com uma deficiência”
“Ela foi vítima da pólio”
A palavra vítima provoca sentimento de piedade.
TERMOS CORRETOS: poliomielite; paralisia infantil e pólio. FC: ela
teve pólio
“Ele é surdo-cego”
GRAFIA CORRETA: “ele é surdocego”. Também
podemos dizer ou escrever: “ele tem surdocegueira” Ver o item 55.
“Ele manca com bengala nas axilas”
FRASE CORRETA: “ele anda com muletas axilares”. No contexto coloquial, é correto o
uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que anda apoiada em
muletas.
“Ela
sofre de paraplegia” [ou de
paralisia cerebral ou de seqüela de poliomielite]
A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de
vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ela tem paraplegia”
[ou paralisia cerebral ou seqüela
de poliomielite]
Escola normal
No futuro, quando todas as escolas se tornarem
inclusivas, bastará o uso da palavra escola sem adjetivá-la. TERMOS
CORRETOS: escola comum; escola regular.
“Esta família carrega a cruz de ter um
filho deficiente”
Nesta frase há um estigma embutido: ‘Filho
deficiente é um peso morto para a família’. FRASE CORRETA: “esta família
tem um filho com deficiência”
“Infelizmente, meu primeiro filho é
deficiente; mas o segundo é normal”
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito
questionável, ultrapassado. E a palavra infelizmente reflete o que a mãe
pensa da deficiência do primeiro filho: ‘uma coisa ruim’. FRASE CORRETA:
“tenho dois filhos: o primeiro tem deficiência e o segundo não tem”
Intérprete do LIBRAS
TERMO CORRETO: intérprete da Libras (ou
de Libras). Libras é sigla de
Língua de Sinais Brasileira. “Libras é um termo consagrado pela comunidade
surda brasileira, e com o qual ela se identifica. Ele é consagrado pela
tradição e é extremamente querido por ela. A manutenção deste termo indica
nosso profundo respeito para com as tradições deste povo a quem desejamos
ajudar e promover, tanto por razões humanitárias quanto de consciência social e
cidadania. Entretanto, no índice lingüístico internacional os idiomas naturais
de todos os povos do planeta recebem uma sigla de três letras como, por
exemplo, ASL (American Sign Language). Então será necessário chegar a
uma outra sigla. Tal preocupação ainda não parece ter chegado na esfera do
Brasil”, segundo CAPOVILLA (comunicação pessoal).
Inválido (referindo-se a uma pessoa)
A palavra inválido significa sem valor.
Assim eram consideradas as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o
final da Segunda Guerra Mundial. TERMO CORRETO:
pessoa com deficiência
LIBRAS - Linguagem Brasileira de Sinais
GRAFIA CORRETA:
Libras. TERMO
CORRETO: Língua de Sinais Brasileira. Trata-se de uma língua e não de uma
linguagem. Segundo CAPOVILLA [comunicação pessoal], “Língua de Sinais
Brasileira é preferível a Língua Brasileira de Sinais por uma série
imensa de razões. Uma das mais importantes é que Língua de Sinais é uma
unidade, que se refere a uma modalidade lingüística quiroarticulatória-visual e
não oroarticulatória-auditiva. Assim, há Língua de Sinais Brasileira. Porque
é a língua de sinais desenvolvida e empregada pela comunidade surda
brasileira. Não existe uma Língua Brasileira, de sinais ou falada”.
Língua dos sinais
TERMO CORRETO: língua
de sinais. Trata-se de uma
língua viva e, por isso, novos sinais sempre surgirão. A quantidade total de
sinais não pode ser definitiva.
Linguagem de sinais
TERMO CORRETO: língua
de sinais. A comunicação
sinalizada dos e com os surdos constitui um língua e não uma linguagem. Já a
comunicação por gestos, envolvendo ou não pessoas surdas, constitui uma
linguagem gestual. Uma outra aplicação do conceito de linguagem se refere ao
que as posturas e atitudes humanas comunicam não-verbalmente, conhecido como a
linguagem corporal.
Louis Braile
GRAFIA CORRETA:
Louis Braille. O criador do sistema de escrita e impressão para
cegos foi o educador francês Louis Braille (1809-1852), que era cego.
Mongoloide; mongol
Mudinho
Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não
corresponde à realidade dessa pessoa. O diminutivo mudinho denota que o
surdo não é tido como uma pessoa completa.
TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa
surda; deficiente auditivo; pessoa com deficiência auditiva. Ver o item
56.
O epilético
TERMOS CORRETOS:
a pessoa com epilepsia, a pessoa que tem epilepsia. Evite
fazer a pessoa inteira parecer deficiente.
O incapacitado
TERMO CORRETO:
a pessoa com deficiência. A palavra incapacitado é muito
antiga e era utilizada com freqüência até a década de 80.
O paralisado cerebral
TERMO CORRETO: a
pessoa com paralisia cerebral. Prefira
sempre destacar a pessoa em vez de fazer a pessoa inteira parecer deficiente.
“Paralisia cerebral é uma doença”
FRASE CORRETA: “paralisia cerebral é uma condição”. Muitas pessoas confundem doença com
deficiência.
Pessoa normal
TERMOS CORRETOS:
pessoa sem deficiência; pessoa não-deficiente. A normalidade, em relação a pessoas,
é um conceito questionável e ultrapassado.
Pessoa presa (confinada, condenada) a uma cadeira de rodas
TERMOS CORRETOS:
pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira de rodas;
pessoa que usa uma cadeira de rodas.
Os termos presa, confinada e condenada provocam
sentimentos de piedade. No contexto coloquial, é correto o uso dos termos cadeirante
e chumbado.
Pessoas ditas deficientes
TERMO CORRETO: pessoas
com deficiência. A palavra ditas,
neste caso, funciona como eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que
é preconceituoso.
Pessoa
surda-muda
GRAFIA CORRETA:
pessoa surda ou, dependendo do caso, pessoa com
deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo
não corresponde à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência
auditiva parcial (quando há resíduo auditivo) e surdez (quando
a deficiência auditiva é total). Ver item 57.
Portador de deficiência
TERMO CORRETO: pessoa
com deficiência. No Brasil,
tornou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo portador
de deficiência (e suas flexões no feminino e no plural). Pessoas com
deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência; que a deficiência
que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos
(por exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido
passou a ser pessoa com deficiência.
Quadriplégica; quadriparesia
Retardo mental, retardamento mental
TERMO CORRETO: deficiência
mental. São pejorativos os
termos retardado mental, pessoa com retardo mental, portador de retardamento
mental etc. Ver comentários ao item 12.
Sistema
inventado por Braile
GRAFIA CORRETA: sistema inventado por Braille. O nome Braille (de Louis Braille, inventor do
sistema de escrita e impressão para cegos) se escreve com dois l
(éles). Braille nasceu em 1809 e morreu aos 43 anos de idade.
Sistema
Braille
GRAFIA CORRRETA:
sistema braile. Conforme
MARTINS (1990), grafa-se Braille somente quando se referir ao educador
Louis Braille. Por ex.: ‘A casa onde Braille passou a infância (...)’.
Nos demais casos, devemos grafar: [a] braile (máquina braile, relógio
braile, dispositivo eletrônico braile, sistema braile, biblioteca braile etc.)
ou [b] em braile (escrita em braile, cardápio em braile, placa metálica
em braile, livro em braile, jornal em braile, texto em braile etc.). Ver o item
58.
“Sofreu um acidente e ficou incapacitado”
FRASE CORRETA: “teve um acidente e ficou
deficiente”. A palavra sofrer
coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de
piedade.
Surdez-cegueira
GRAFIA CORRETA:
surdocegueira. É um
dos tipos de deficiência múltipla.
Surdinho
TERMOS CORRETOS:
surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. O diminutivo surdinho denota que o
surdo não é tido como uma pessoa completa.
Os próprios cegos gostam de ser chamados cegos e os surdos de surdos,
embora eles não descartem os termos pessoas cegas e pessoas surdas. Ver
o item 36.
Surdo-mudo
GRAFIAS CORRETAS:
surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo
não corresponde à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência
auditiva parcial (quando há resíduo auditivo) e surdez (quando a
deficiência auditiva é total). Evite usar a expressão o deficiente auditivo.
Ver o item 46.
Texto (ou escrita, livro, jornal,
cardápio, placa metálica)
em Braille
TERMOS CORRETOS:
texto em braile; escrita em braile; livro em braile; jornal em
braile; cardápio em braile; placa metálica em braile.
Visão subnormal
GRAFIA CORRETA:
visão subnormal. TERMO
CORRETO: baixa visão. É preferível baixa visão a
visão subnormal. A rigor, diferencia-se entre deficiência visual
parcial (baixa visão) e cegueira (quando a deficiência visual é
total).
Enviado por D.Vilson.
Romeu Kazumi Sassaki
Consultor de inclusão e especialista em reabilitação de pessoas com deficiência