Dom Francisco Biasin
Bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ)
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso
«Finalmente! Somos hermanos!» exclama Papa Francisco ao abraçar o Patriarca Kirill que responde: «Agora as coisas se tornaram mais fáceis!». «È a vontade de Deus!», acrescenta o Papa.
Numa sala do aeroporto de Havana, no dia 12 de fevereiro, sentados um perto do outro, tendo um grande crucifixo afixado na parede de fundo, encontram-se pela primeira vez os líderes da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa russa, depois da interrupção dos contatos no ano de 1054, iniciando assim uma nova fase nos relacionamentos entre as duas Igrejas.
O gesto que mais caracteriza o Papa Francisco é o abraço! Demonstrando-se filho da cultura latino-americana, sem nenhum constrangimento, com ternura e intensidade de sentimentos, ele se achega de todas pessoas, sobretudo dos simples e sofredores e vence todas as barreiras com este gesto que aproxima os corações. E quando os corações se unem, tudo se torna mais fácil. De fato, a via do coração é direta e atinge o âmago de cada ser humano.
Depois é mais fácil colocar-se de acordo sobre questões importantes, desatar nós que impedem o fluxo do pensamento, reatar relações interrompidas, enfim tornar a vida uma bênção!
Retornando ao encontro de Cuba, vimos que, depois do abraço entre Francisco e Kirill, ele se tornou a ocasião para lançar uma mensagem forte em favor dos cristãos perseguidos e expulsos de suas terras e para assinar uma declaração conjunta que manifesta preocupação diante das sociedades secularizadas e toma a defesa da família e da vida, conscientes que “da nossa capacidade de testemunhar juntos nestes tempos difíceis, depende em grande parte o futuro da humanidade”.
Na vertente do diálogo entre as duas Igrejas, afirma-se, no documento, a exclusão de «qualquer forma de proselitismo. Não somos concorrentes, mas irmãos!».
Alguns parágrafos do documento são dedicados à família e à vida: “Estamos preocupados com a crise da família… Lamentamos que outras formas de convivência já estejam postas ao mesmo nível desta união, ao passo que o conceito, santificado pela tradição bíblica, de paternidade e de maternidade como vocação particular do homem e da mulher no matrimônio, seja banido da consciência pública”. Francisco e o Patriarca afirmam que "milhões de crianças são privadas da própria possibilidade de nascer no mundo. A voz do sangue das crianças não nascidas clama a Deus (cf. Gn 4, 10)”. Enfim eles manifestam preocupação também para a eutanásia que “faz com que as pessoas idosas e os doentes comecem a sentir-se um peso excessivo para as suas famílias e a sociedade em geral”.
Sábado, dia 20 de fevereiro, o Patriarca Kirill esteve no Rio de Janeiro. Depois da visita ao Corcovado e à comunidade ortodoxa russa na Igreja da Santa Mártir Zenaide, houve o almoço dos bispos da comitiva do Patriarca com vários convidados do Cardeal Orani João Tempera no edifício João Paulo II, entre eles os bispos do Regional Leste 1.
Após o almoço o cumprimentei pessoalmente. Pude assim expressar-lhe o desejo e a disponibilidade da nossa Igreja em relação ao diálogo com a comunidade ortodoxa russa aqui no Brasil e especificamente no Rio de Janeiro. Afirmei que este diálogo fraterno já existe com outras Igrejas da ortodoxia, em vista da construção da paz no mundo, contra todo tipo de violência, destacando a perseguição aos cristãos de todas as denominações nos países em conflito no Oriente Médio e em outras regiões do planeta. Pedi a ele que abençoasse o nosso esforço neste sentido. Foi o que ele fez com um gesto da mão e um sorriso fraterno!”
Na entrevista que o Papa concedeu na viagem de retorno do México, respondendo a uma pergunta posta-lhe por um repórter a respeito do encontro com o Patriarca, Francisco respondeu: “Kirill é meu irmão. Eu o abracei e o beijei!”, afirmando assim que a premissa de todas as premissas para o diálogo é o abraço e o ósculo santo! É a fraternidade expressa através de gestos concretos que aproximam as pessoas e os corações!
Queira Deus que a “teologia afetiva” própria de Francisco de Assis e retomada por Francisco de Roma possa avançar na nossa Igreja e circular entre as Igrejas, para recompor num só Corpo de Cristo os filhos de Deus que, pelos nossos pecados, estão divididos e dispersos.
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