Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Os leigos são cristãos que têm uma missão especial na Igreja e na sociedade. Pelo batismo, receberam essa vocação de viver intensamente a serviço do Reino de Deus. O ministério ordinário do cristão leigo é estar no mundo testemunhando o Cristo Ressuscitado. É um cristão que segue a Cristo radicalmente e O testemunha em seus ambientes. Esse é o lugar por excelência dos leigos. Constituem a maioria da Igreja, Povo de Deus, e imaginamos como é importante que esses nossos irmãos, que se alimentam da Palavra e Eucaristia em nossas Assembléias, sejam sempre mais sal da terra e luz do mundo.
Porém, além de seu protagonismo no ministério ordinário que lhes é confiado pela Igreja, eles desempenham vários ministérios, em geral, extraordinários, dentro da comunidade eclesial. Os leigos são chamados a desempenhar diversas tarefas: catequista, ministro extraordinário da Comunhão Eucarística, da Consolação e da Esperança, em alguns lugares também do Batismo e do Matrimônio, agente das diferentes pastorais, atividades como, por exemplo, o edificante serviço aos pobres e aos doentes. São chamados, ainda a colaborar no governo paroquial e diocesano, participando dos conselhos pastorais e econômicos.
São membros ativos da comunidade, assumindo ministérios e serviços para fazer acontecer a missão da Igreja de Cristo. Entretanto, como disse acima, a missão mais importante dos leigos é no mundo. Eles são chamados a realizar sua missão dentro das realidades que encontram no seu dia a dia. Na família, no trabalho, na escola, no mundo da política, nos movimentos populares, nos meios de comunicação, eles são chamados a testemunhar, pela Palavra e pela vida, a mensagem de Jesus Cristo.
A missão do leigo é ser fermento nos ambientes em que vive; nesses campos de vida e de atuação, ser “sal da vida e luz do mundo”. O Concílio Vaticano II e os ensinamentos dos últimos Papas insistem muito na necessidade de os leigos participarem ativamente na construção de uma nova sociedade, aperfeiçoando os bens existentes e sanando os males.
"Os Cristãos Leigos são homens e mulheres da Igreja no coração do mundo, homens e mulheres do mundo no coração da Igreja". (Documento de Aparecida, 210). São João Paulo II dizia-nos: "a Evangelização do Continente não pode realizar-se hoje sem a colaboração dos fiéis leigos". (EAm 44). O Documento de Aparecida retoma e reafirma as posições do Concílio Vaticano II de que os Leigos são membros efetivos do Povo de Deus e são Igreja. Para exercerem sua missão, sem dúvida que o ponto de partido é o encontro com Cristo Ressuscitado. A primeira e única opção fundamental é por Cristo. Tendo esse encontro, que transforma vidas e histórias, estarão prontos para dialogar com todas as realidades sem perder a identidade cristã.
Duas são as dimensões da vocação laical. Em uma, os leigos são chamados a exercerem diversas ações na comunidade eclesial e em diferentes formas de apostolado. Devem dar seu testemunho de vida e assumir diversos ministérios e serviços na evangelização, na catequese, na animação de comunidades, na liturgia, dentre outros. (Cf. DA 211). A outra dimensão, esta essencial, é a de atuar no mundo, "a vinha do Senhor", com a tarefa de ser fermento, sal e luz seja pelo testemunho, seja pela ação transformadora na construção da sociedade justa e solidária, conforme os critérios evangélicos. Esta missão específica deve ser vivenciada pelos leigos na política, na realidade social, na economia, nos meios de comunicação, nos sindicatos, no mundo do trabalho urbano e rural, na cultura, na família e em tantas outras realidades. (Cf EN 70 e DA 210).
O protagonismo dos leigos está presente na caminhada da Igreja, através de todos os seus fiéis e de suas lideranças, que promovem e levam à frente a tarefa da evangelização, sempre em união com seus pastores. Para contribuir nesse processo, a CNBB possui uma Comissão Episcopal para o Laicato, que tem como função, na Igreja no Brasil, promover a vocação e missão, formação e espiritualidade dos leigos, bem como sua organização e atuação na Igreja e na sociedade. É uma Comissão da Conferência Episcopal que tem essa especial direção. Fazem parte da Comissão Episcopal do Laicato os Setores Leigos, Juventude e CEBs. A Comissão tem relação de comunhão com o CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil – e com outros Movimentos e Associações Laicais. São expressões vivas e dinâmicas da presença e da força dos leigos nas comunidades.
Neste ano, a 54ª Assembleia Geral Ordinária da CNBB (6 a 15 de abril em Aparecida-SP) terá como tema principal: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na Igreja e na Sociedade”, com o lema: “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mt 5, 13-14). Como tema principal terá mais tempo para aprofundamento do tema e para discussões em grupos e em plenário. Já são mais de dois anos que esse tema está sendo aprofundado e, provavelmente, neste ano deverá sair o documento que atualiza essa presença do cristão leigo como Igreja no mundo de hoje.
Nesta esperança depositada da Igreja em seus leigos, é dever de todos que abraçam este estado de vida, propagar a fé e defender todas as diretrizes da Igreja e confirmar esta santidade, pois temos a certeza de participar ativamente dos mistérios de Cristo. “Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: por eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade. Por isso, eles, sobretudo, devem ter uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja, isto é, comunidade dos fiéis na Terra sob a direção do chefe comum, o Papa, e dos Bispos em comunhão com ele. Eles são Igreja” (Papa Pio XII).
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