Ao
ler o episódio de Emaús somos todos peregrinos na mesma estrada.
Como aqueles dois discípulos de Jesus, que voltavam para o povoado
de Emaús, abatidos e tristes. Não tinham eles explicações para a
sua vida, após os acontecimentos vividos em relação à prisão e
morte do Mestre na cruz. Em dado momento, aproximou-se deles outro
caminhante, na aparência um desconhecido. Entrou na conversa e
partilhou com os dois o interesse sobre o assunto: Jesus de Nazaré,
o crucificado! Esperavam que ele fosse o Messias, o libertador do
povo judeu humilhado pela dominação estrangeira. E estavam
frustrados. Ele fora crucificado. Mas alguns boatos ressoavam entre
outros discípulos: Jesus teria sido visto redivivo!
Entrando
na conversa, o caminheiro desconhecido falava aos dois sobre as
passagens bíblicas dos profetas que anunciavam a dor, a rejeição,
o sofrimento do Messias. Tudo era uma questão de interpretação
correta do texto bíblico. Ele não poderia ser lido com uma
expectativa nacionalista e patriótica. O triunfo do Messias não
seria o de um guerreiro vencedor, à testa de um povo apenas. Deus o
enviaria não só para libertar Israel. A sua missão seria para
todos os povos. E o caminho da dor e da cruz imposto ao Messias pelos
maus, se tornaria um caminho de glória e vitória pelo poder de
Deus. Assim pensavam os profetas e assim explicou aquele desconhecido
aos dois discípulos na estrada de Emaús. Lucas termina seu
Evangelho narrando o episódio, não mencionado nos outros três. A
intenção do texto é clara: levar a comunidade cristã a reconhecer
a presença misteriosa de Jesus na história. No caminhar dos homens
em todos os tempos. Como o texto é longo, é bom dividir a leitura
para se entender melhor o seu conteúdo catequético. Ler
de início: Lucas
24,13-25.
Assimila-se
bem o conteúdo catequético dessa passagem notando que o autor Lucas
concentrou todas as tradições escritas a respeito de Jesus
ressuscitado, no capítulo 24. Num dia só Jesus aparece às mulheres
e a Pedro que reconhece sua nova condição a partir do túmulo
vazio. No mesmo dia Jesus tornar-se o viandante desconhecido
companheiro dos dois discípulos não identificados que moravam em
Emaús, uma aldeia perto de Jerusalém. Se os discípulos não tem
nome e tem moradia sabida é porque aqui no texto e na intenção de
Lucas, eles representam a comunidade cristã. Qualquer uma, desde que
empenhada em experimentar na fé a nova condição de Jesus de
Nazaré. A sua ressurreição! Os dois discípulos de Emaús só
reconheceram que era Jesus quem caminhava com eles, já em casa,
durante a refeição. Esse é o quadro de fundo.
Ao
chegarem a Aldeia, “Jesus fez de conta que ia mais adiante” (v.
28), Mas, ao convite dos dois aceitou pernoitar com eles já que o
dia chegava ao fim. Tais detalhes da narrativa indicam que a
comunidade tem que se interessar, tem que procurar, tem que fazer-se
“próxima” dos outros. Somente assim poderá reconhecer Jesus e
seu mistério!
Foi
o que aconteceu. Sentado à mesa da ceia, Jesus abençoou, partiu e
repartiu o pão. Gestos pascais próprios da vida e obras do Messias.
Foi a chance para os discípulos o reconhecerem. Isto significa:
partilhar é a linguagem da comunidade reunida em nome da fé em
Cristo. Partilhar é o gesto que resume a presença dos cristãos no
meio dos homens e na história. Sem “partir o pão” e sem
comungar com o projeto de Cristo na mesa dele, a eucaristia, não é
possível reconhecer e testemunhar a sua ressurreição.
Foi
no momento de “partir o pão” que os dois homens de Emaús
reconheceram Jesus ressuscitado e presente com eles.
Foi
no momento de “partir o pão” que os dois homens de Emaús
reconheceram Jesus ressuscitado e presente com eles.
A
continuidade e consequências do episódio na vida da comunidade:
ficam dadas em: Lc
24,28-35. O
episódio se encerra com a afirmação do testemunho: Jesus de fato
ressuscitou! Os profetas o predisseram; ele se fez companheiro no
caminho; ele está presente na experiência da comunidade reunida em
seu nome!O texto relata que os dois discípulos de Emaús voltarem
imediatamente a Jerusalém só para comunicar-se com os 11 apóstolos.
Isso significa que é preciso voltar às fontes da Igreja. Lucas
ajuda o leitor a entender que os apóstolos são as testemunhas
fidedignas das aparições. Representam a Igreja como depositária da
Nova Aliança de Jesus para todos os povos. Jerusalém não é vista
mais como a cidade-símbolo da antiga aliança. Foi substituída. A
comunidade dos onze apóstolos fiéis é a primeira de todas as
demais comunidades cristãs do mundo, pois conscientes de sua
autoridade confirmaram: de fato Jesus é o Senhor, pois Deus o
glorificou!
O
pão que é Jesus partilhado por nós na mesa da comunhão é o seu
corpo e sangue. Corpo e sangue do Filho de Deus gerado no seio
bendito da Virgem Maria, que nele acreditou e o recebeu por primeiro.
A “estrada de Emaús” -com seus simbolismos- foi percorrida antes
na vida de Maria ao lado do Filho: em Nazaré, na Galiléia, depois
em Jerusalém terminando no Calvário. Por isso, ela esteve junto com
os membros da primeira comunidade apostólica animando-os na oração
e no testemunho (Atos 1,14). E hoje persevera conosco nesse caminho
da fé.
http://www.a12.com/academia/grao-de-trigo/reconheceram-jesus-ao-partir-o-pao