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João Bosco Óliver de Faria
Arcebispo Emérito de
Diamantina
Patos de Minas, 01 de março
de 2018
Vejo, com profunda tristeza, surgir aqui e ali, nas redes sociais,
palavras pesadas, injúrias, calúnias habilmente forjadas, contra a
Igreja Católica e contra a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, CNBB.
Tais fatos ou brotam de inimigos da Igreja de Jesus Cristo, ou brotam
de pessoas católicas, menos avisadas, que acolhem, inocentemente,
informações deturpadas – fake News – e se deixam impressionar e
levar por aqueles que, profissionalmente, são hábeis na mentira e
inimigos da Igreja.
Quanto aos primeiros, deles não se pode esperar flores ou aplausos.
Aliás a Igreja não precisa nem pode se interessar por isso. Ela tem
uma missão a cumprir, recebida do próprio Jesus. Aquelas pessoas
fazem o que sabem fazer.
Quanto aos católicos, que participam assiduamente dos sacramentos e
da vida da Igreja, e que conservam, no coração, o amor à Igreja
que aprenderam de seus pais, esses, penso, sofrem na sua carne tais
ofensas, calúnias e ficam a se questionar quanto à verdade das
mesmas.
Há ainda os católicos que, sem culpa e por circunstâncias
diversas, não tiveram a oportunidade de conhecer melhor a Palavra de
Deus na Bíblia, nem de conhecer a Igreja, seus ensinamentos e
participar com frequência de suas celebrações. Esses, mais
facilmente se deixam levar por tais notícias e até se permitem
agredir a Igreja que os acolheu e pela qual nunca fizeram o menor
sacrifício, nem com Ela se comprometeram. O bom filho não fala mal
de sua Mãe, mesmo quando imagina estar ela equivocada.
Há, ainda, felizmente, os católicos que amam, de fato, a Igreja e
percebem possíveis falhas em alguns de seus dirigentes. Assim como
os sinais do semáforo não perdem seu valor pelos defeitos do poste
que os sustenta, também o sacerdote não perde o dom de ser portador
da graça de Deus por causa de suas fraquezas.
A natureza humana do sacerdote pode estar prejudicada naquilo que ele
deveria ser como sacerdote de Jesus Cristo, mas o sacerdócio de
Jesus Cristo, que está presente nele, continua exercendo a sua força
de santificação.
Quando isso vem a acontecer, o caminho para o cristão seria o de
procurar o seu sacerdote e, com humildade, caridade e serenidade,
apresentar-lhe o que não está correto mostrando-lhe uma sugestão
de melhoria. Se por acaso ele não o escutar, procure outro sacerdote
que possa ajudar aquele irmão Padre em suas dificuldades. Se
necessário, depois, procure um contato com seu Bispo Diocesano que
sempre deve estar pronto a ajudar o seu sacerdote. É o que Jesus nos
ensina em Mateus 18, 15 a respeito da correção fraterna.
Dirijo minhas palavras a todos os bons filhos de Deus. Quero
ajudá-los, tranquilizá-los e conservá-los no amor afetuoso à
única Igreja de Jesus Cristo, a Igreja Católica.
Georges Bernanos, em sua obra premiada pela Academia Francesa
de Letras – “Diário de um Pároco de Aldeia” –,
referindo-se aos padres diocesanos, coloca nos lábios do
Pároco de Torcy as palavras: “... multidão venerável de
sacerdotes zelosos, irrepreensíveis, que consagram suas forças às
esmagadoras tarefas do ministério”.
Disse-me o Cardeal Dario Castrillon, então Prefeito da Congregação
para o Clero: “Os padres são o grande e maravilhoso exército
que carrega a Igreja nas costas!”
Cada sacerdote age segundo seus dons e segundo a missão que
recebeu.
Não faltam, em nossas paróquias, leigos comprometidos e empenhados
e que dão, com generosidade, sacrifício e perseverança, o melhor
de si para a catequese, para as pastorais e para os diversos
ministérios que sustentam a vida paroquial.
Mas o Padre, sob a orientação de seu Bispo e em união com ele, é
o coração, a cabeça, a alma da Paróquia! Ele se santifica e
santifica seu povo. Ele anima os fracos, consola e alivia os que
sofrem, alegra os tristes, incentiva os lentos, equilibra os
apressados, orienta os duvidosos e inseguros, anunciando a todos
Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6).
O que sustenta o coração de um sacerdote, o que dá o brilho de
alegria a seus olhos no exercício do seu ministério é seu amor a
Cristo e à Igreja. O sacerdote não corre, nem pode correr atrás de
aplausos.
Amar a Igreja
Perguntei, certa vez, a uma pessoa: “o que significa amar a
Igreja?”
Ela me respondeu:
Amo a Igreja porque, na Igreja, recebo o Batismo, que é a fonte
de minha vida espiritual. Tenho, também, na Igreja, os demais
sacramentos que são alimento dessa vida: na Igreja, encontro o
perdão de meus pecados; a grande força da Eucaristia que me
sustenta nas dificuldades e desafios da vida; pelo sacramento da
Crisma, recebo da Igreja os dons do Divino Espírito Santo; pela
Igreja, o meu amor matrimonial, que é humano, é transformado, é
vivificado e fortalecido pelo Amor Divino; e, pelo sacramento da
Unção dos Enfermos, encontro a força espiritual e o remédio na
doença.
Amo também a Igreja, porque, na catequese, na pregação dos
sacerdotes, nos ensinamentos dos Bispos e dos Papas, tenho a
segurança de estar recebendo com autenticidade os ensinamentos de
Jesus.
Amo ainda a Igreja pelo manancial de temas de espiritualidade e de
doutrina, acumulados na sua história, desde os primeiros séculos do
cristianismo, quer nos livros dos Santos Padres, quer nos escritos de
tantos santos que nos ajudam no aperfeiçoamento de nossa vida
cristã.
A Igreja oferece, também, o testemunho desses santos, que viveram
as dificuldades de sua época e que foram fiéis aos ensinamentos de
Jesus. Eles são como um espelho em que encontro as forças para dar,
hoje, o meu testemunho de vida cristã.
Eu fiquei pensando: a resposta é bonita, mas isso não é AMAR A
IGREJA!
Tudo o que a pessoa respondeu é verdade, mas devo fazer aqui uma
consideração importante: essa pessoa não ama a Igreja, ela gosta
da Igreja; ela busca a Igreja para levar suas vantagens – vantagens
boas e, até santas, mas vantagens!...
Gostar é possuir, é querer ter as coisas em proveito
próprio. “Gostar” é uma palavra que, corretamente, só pode
ser aplicada às coisas, às plantas, aos animais. As crianças
gostam do sorvete, do picolé, do chocolate. E, porque gostam, os
destroem em benefício próprio. Os adultos gostam do churrasco, da
cerveja, do vinho e, porque gostam, os destroem.
Posso, também, gostar de uma roupa que me dá conforto, de um carro
ou de uma casa. Posso, ainda, gostar de uma cidade enquanto desfruto
em meu benefício o que ela pode oferecer para a minha realização
pessoal, para o meu conforto, para o meu deleite ou prazer, ou para o
bem de minha família.
Assim, também, poderia até gostar da Igreja ou da Paróquia, pelos
benefícios ou vantagens que delas posso receber. Poderia, também,
erroneamente, gostar de uma pessoa pelas vantagens que sua amizade me
ofereceria.
Mas, de fato, não posso gostar de uma pessoa. Ela é filha de Deus
e, enquanto tal, não pode ser possuída nem instrumentalizada em
favor de outrem. Eu não posso usá-la e, pior ainda, destruí-la em
meu proveito. Não posso, também, gostar de uma realidade ou de um
ser espiritual-divino, pois não posso colocar tal entidade
espiritual-divina a meu serviço ou a serviço de meus interesses e
prazeres. A Igreja é uma realidade transcendente, espiritual,
divina. A Igreja só pode ser amada por quem se sente seu filho.
Outras pessoas, que não são seus filhos (de outras religiões),
podem até gostar dela.
Como católico, não posso nem devo dizer que “gosto da Igreja”!
O que seria então AMAR A IGREJA?
O amor tem cheiro de morte. “Ninguém tem mais amor do
que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
Só ama quem é capaz de morrer pelo amado. Os pais, porque amam, não
medem os sacrifícios que fazem por seus filhos. Quanta renúncia dos
pais para dar aos filhos o que eles, pais, nunca tiveram quando
crianças, adolescentes ou jovens. E, sempre pensam que poderiam
fazer mais por eles. Isso acontece porque é grande o amor que eles
têm pelos filhos. Amar é morrer pelo amado!
O amor matrimonial só cresce e se fortalece enquanto os dois são
capazes de renunciar a alguma coisa, a seus interesses ou a um bem
estar pessoal em benefício da pessoa amada, quando os dois são
capazes de morrer um pelo outro, no dia a dia da vida, em seus
trabalhos e nas pequenas ou nas grandes renúncias. Sacrificam-se um
pelo outro e os dois pelos filhos. Os casais se separam quando se
gostam, mas não se amam. O primeiro que se cansa de ser tratado como
coisa desanima e abandona o casamento por falta da força da fé!
Ensinou-nos Jesus: -“Se o grão de trigo que cai
na terra não morre, fica só. Se ao contrário ele morrer, produzirá
fruto em abundância” (Jo 12,24).
Cristo nos oferece o exemplo, ao dar a Sua vida pela Igreja e por
nós, mesmo sabendo que Seu amor não encontraria acolhimento nem
retribuição por grande parte de pessoas. Amar é doar-se sem nada
esperar como retribuição. Quem ama de verdade, sem nada esperar
como retribuição, desconhece a decepção! Quem se decepciona com a
Igreja, é porque não a ama, mas gosta dela!... E quando faz algo
pela Igreja, na verdade, o faz por si mesmo, na expectativa de alguma
vantagem.
O apóstolo Paulo nos dá seu exemplo, quando descreve à
Comunidade de Corinto o quanto sofreu pela Igreja: Muito mais do
que eles, pelos trabalhos, pelas prisões, por excessivos açoites;
muitas vezes em perigo de morte; cinco vezes, recebi dos judeus
quarenta chicotadas menos uma; três vezes, fui batido com varas; uma
vez, apedrejado; três vezes naufraguei; passei uma noite e um dia em
alto-mar; fiz inúmeras viagens, com perigos de rios, com perigos de
ladrões, perigos da parte de meus compatriotas, perigos da parte dos
pagãos, perigos na cidade, perigos em regiões desertas, perigos no
mar, perigos por parte de falsos irmãos; trabalhos e fadigas,
inúmeras vigílias, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez; e,
sem falar de outras coisas, a minha preocupação de cada dia, a
solicitude por todas as igrejas (2 Cor 11, 23 – 28)!
O Beato Papa Paulo VI escreveu na sua Exortação Apostólica
Evangelii Nuntiandi, resultado do Sínodo da Igreja sobre a
“Evangelização no Mundo Contemporâneo”, acontecido em 1974:
Convém recordar aqui, de
passagem, momentos em que acontece de nós ouvirmos, não sem mágoa,
algumas pessoas – cremos bem intencionadas, mas com certeza
desorientadas no seu espírito – a repetir que pretendem amar a
Cristo, mas sem a Igreja, ouvir a Cristo, mas não à Igreja, ser de
Cristo, mas fora da Igreja. O absurdo de semelhante dicotomia aparece
com nitidez nesta
palavra do Evangelho:
“Quem vos rejeita é a mim que rejeita” (Lc 10, 16). E
como se poderia querer amar Cristo sem amar a Igreja, uma vez que o
mais belo testemunho dado de Cristo é o que São Paulo exarou nestes
termos: “Ele amou
a Igreja e entregou-se a si mesmo por ela”
(Ef 5, 25)?
Amar a Igreja significa querer o seu bem, não “por causa de”,
mas “apesar de”!
Amar a Igreja, amar a Paróquia, amar a Diocese significa querer o
seu bem apesar de seus Bispos, de seus Sacerdotes, de seus Ministros
e Agentes de Pastoral, apesar de certas pessoas que pretendem ser as
“donas da Comunidade”... e mais atrapalham que ajudam! Aprendi,
em minha vida, a amar a Igreja para além daqueles que a representam!
Houve pessoas na Igreja que me fizeram sofrer. Elas estão na Igreja,
mas elas não são a Igreja! Eu amo a Igreja e por ela, com alegria,
tenho dado minha vida nestes 50 anos de sacerdócio, sem contar o
longo tempo de seminário pelo qual passei.
Amar a Igreja significa servir a Igreja e não servir-se da
Igreja.
Amar a Igreja significa dar a nossa vida pela Igreja. Os religiosos,
os consagrados, os sacerdotes renunciaram a ter uma família e a
tantos outros bens, por amor a Cristo, ao Seu Reino, à Sua Igreja.
Uma das dificuldades que os Párocos encontram na direção de suas
Paróquias é a de encontrar pessoas que aceitem participar dos
Ministérios e das atividades pastorais. Os leigos que estão
comprometidos com suas famílias podem dar um pouco de seu tempo ou
de seus bens para que o Reino de Deus, querido por Jesus, aconteça
entre nós. Essa é a missão da Igreja. Aqueles que se dedicam às
pastorais, aos ministérios, aos movimentos de evangelização, o
fazem por amor a Cristo e a Sua Igreja. Amar a Igreja é dar a
própria vida pela Igreja, é morrer por Ela. “Cristo também amou
a Igreja e entregou Sua vida por ela” (Ef 5,25), lembrou-nos o
Beato Paulo VI.
O fundamento do sentimento de pertença à Igreja vem da
consciência do próprio Batismo e não da atividade exercida na
Igreja.
Não é porque exerço uma atividade pastoral ou um ministério na
Igreja que passo a amá-la. Mas é porque amo a Igreja que sinto
necessidade de oferecer minha vida, meu trabalho e meu tempo para que
ela exerça sua missão no anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. A
alegria de ser Igreja, o amor à Igreja nascem da consciência do meu
batismo!
Todo aquele que é batizado torna-se Luz e Vida de Cristo para o
mundo, passa a ser alguém que mostra o caminho para o mundo. Um
mundo sem Cristo é um mundo de violência, de ódio, de morte, de
opressão, de corrupção, de exploração do fraco, do pobre, do
ignorante, um mundo dividido e de divisões. O Batismo leva a pessoa
e o mundo à comunhão em Cristo. Em Cristo, o homem volta a ser o
que deve ser: imagem e semelhança de Deus, criado por Deus Amor para
amar. O homem “cristifica” a humanidade. A pessoa ama essa Igreja
que faz o mundo ser humano e por ela dá a sua vida.
A
Igreja tem um rosto bem concreto, visível:
Para o leigo, a Igreja tem o rosto da Comunidade, da Paróquia de
pertença, da Diocese. É importante trabalhar com nossos leigos o
sentimento de pertença à Comunidade, à Paróquia, à Diocese.
É muito triste encontrar pessoas para quem a Igreja termina nos
limites de sua pequena comunidade, ou nos limites da Paróquia. Tais
pessoas recusam-se a contribuir nas necessidades maiores da Paróquia
ou da Diocese. Estes pretendem que a comunidade da Igreja Matriz
sustente todas as despesas da vida paroquial, até mesmo o carro que
é usado para o atendimento da sua comunidade de pertença.
Há outro erro frequente na manifestação do amor à Igreja: há
pessoas, generosas até, mas que não têm nem sua cabeça nem seu
coração na Comunidade ou na Paróquia em que vivem. Os pobres da
Paróquia poderiam ser mais bem atendidos em suas necessidades.
Pessoas com essas limitações de amor também não se importam com
as necessidades nem com os problemas da Catequese Paroquial, que
precisa anunciar Jesus Cristo às crianças e aos jovens com os
mesmos meios de comunicação a que nossos jovens estão acostumados;
a Capela ou a Matriz necessita trocar seu telhado ou alguma outra
reforma para o bem e o conforto dos fiéis que a frequentam; o som
usado nas celebrações é ruim e faltam microfones de qualidade; o
carro que o Padre usa não oferece segurança e, às vezes, não
chega a seu destino, deixando o pobre Padre na estrada, na poeira ou
no barro, de dia ou de noite.
É na sua Paróquia que você foi batizado, ou então batiza os seus
filhos. Nela, você e seus filhos recebem a força viva da Eucaristia
e o perdão de seus pecados. Nela seus filhos são confirmados no
Espírito Santo, quando se iniciam na maturidade da vida diante dos
perigos de um mundo afastado de Deus. Nela, você teve seu amor
matrimonial abençoado ou nela você verá ser abençoado o amor
matrimonial de seus filhos. Nela, você encontra o conforto da fé na
ressurreição de Cristo, quando acontece a perda de entes queridos.
Nela, você terá o conforto da Unção dos Enfermos, quando chegar
uma indesejada doença grave.
A sua Paróquia é a SUA PARÓQUIA
A sua Paróquia é o rosto da Igreja que o adota como filho, que o
ama e que trabalha pela sua felicidade e pela felicidade de sua
família. Participe da sua Paróquia com a santa vaidade de ser
Católico e seguidor de Jesus Cristo.
Se a sua cidade tem mais de uma Paróquia, procure ser fiel e
participar, em tudo, na SUA PARÓQUIA de pertença. Jesus Cristo é
o centro do nosso viver. “Cristo é a nossa vida”, nos ensina São
Paulo (Cl 3,4). Ame Jesus Cristo e Sua Igreja, na sua Paróquia. Não
se deixe levar pela simpatia maior ou menor deste ou daquele Pároco.
Tal vivência religiosa seria sentimentalismo, interesse pessoal e
não vivência e espírito de fé.
Participar da vida da sua Comunidade com seu trabalho É OBRIGAÇÃO.
O bom católico não deve ser apenas um “fã” um “torcedor”
de Jesus Cristo, mas um membro vivo e atuante do Corpo Místico de
Cristo (Cl 1, 24) com a oração e com o trabalho, corresponsável na
sua Comunidade Igreja.
Para todos os católicos, a Igreja tem o rosto da DIOCESE
onde a mente e o coração estão no Bispo auxiliado por seus
sacerdotes, onde seu útero está no Seminário, onde seus órgãos
vitais e seus membros se manifestam em seus leigos com funções, com
dons e com carismas diversificados, todos trabalhando pela construção
do Reino de Deus.
A Igreja tem o rosto DA PARÓQUIA onde a mente e o coração estão
no Pároco com os Sacerdotes e Diáconos seus colaboradores; o útero
está na catequese e nos que a ela se dedicam; e seus órgãos vitais
e seus membros se evidenciam em seus leigos dedicados à missão,
enriquecidos com seus dons e com os carismas do Espírito.
Para todo aquele que quer ser Igreja, ela tem o rosto do POBRE, que,
pelo egoísmo de outros, nasceu ou se tornou pobre e se encontra
privado das condições de uma vida digna e que, por isso, amarga sua
existência na tristeza, sem esperança de uma situação melhor.
Nada mais triste nesta terra que as lágrimas de uma criança pobre
que desconhece o carinho do abraço de um pai ou a ternura do beijo
de uma mãe.
A Igreja tem o rosto do DOENTE que não consegue marcar uma
consulta médica e, quando o faz, não tem acesso aos exames clínicos
e aos remédios que lhe devolveriam a saúde e lhe suavizariam a dor.
A Igreja tem o rosto do FRACO que não consegue defender seus
direitos e vê-se usurpado nos seus poucos pertences e espoliado no
mercado de trabalho.
A Igreja tem o rosto do SOLITÁRIO que, pelos seus cabelos brancos ou
por sua fraqueza física, vive em um canto de seu quarto atravessando
as noites intermináveis e os dias que não passam, sem ter alguém
com quem conversar e recordar as páginas menos sofridas da própria
vida.
A Igreja tem o rosto do SOFREDOR que bebe do cálice da calúnia e da
maledicência, ao ver seu nome e sua honra serem vilipendiados,
sofrendo as consequências da inveja diabólica dos fracassados na
vida, dos corruptos e dos incompetentes.
A Igreja tem o rosto do PECADOR que desconhece a imensidão da
misericórdia de Deus, bom e paciente, sempre pronto a perdoar e que
esquece sempre e para sempre todas as nossas faltas.
E os escândalos na Igreja?
As pessoas na Igreja que se envolvem em escândalos estão na Igreja,
mas não são a Igreja. Já nos disse Jesus: Ai do mundo por causa
dos escândalos. É inevitável, sem dúvida, que eles ocorram, mas
ai daquele que os provoca (Mt 18,7)!
Volto a lembrar duas coisas que escrevi: amo a Igreja apesar dessas
pessoas e não por causa das pessoas que estão na Igreja; aprendi a
amar a Igreja para além daquelas pessoas que a representam.
Um bom católico reza pela conversão daqueles que provocaram ou que
provocam escândalo com seu mau testemunho de vida. É também por
isso que a Igreja nos propõe o exemplo e o modelo dos santos: não
para serem “adorados,” como dizem pessoas não católicas, mas
para que seus ensinamentos e exemplos possam nos fortalecer na fé,
diante do mau exemplo de outros!
Queridos irmãos em Cristo, desejo fazer crescer em seus corações
o amor a Cristo, o amor à Igreja. Nesse amor, a iniciativa é de
Cristo: Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui
eu que os escolhi, para que vão e deem fruto e que esse fruto não
se perca (Jo 15,16).
É divina a origem da Igreja. É divina a origem de nossa
vocação batismal. É divina a origem de nossa vocação sacerdotal.
É divina nossa pertença, a minha pertença à Igreja Católica!
Apesar de ser o que eu sou, Deus me escolheu com um amor de
predileção para ser Dele, só Dele, todo Dele e ser, pelo Batismo
que recebi, a presença viva de Jesus no mundo.
Deus tem a mim e a você para fazer a Igreja de Cristo sempre mais
bela, iluminando a vida da humanidade.
O amor com que Cristo nos amou, a ponto de dar a Sua vida e de
sofrer a morte na cruz por nós, só pode ter uma resposta de amor:
dar a nossa vida, incondicionalmente, toda ela, sem reservas, por
Cristo e pela Igreja, colocando à disposição do Senhor da Messe
todos os dons e todos os carismas que recebemos, trabalhando com fé,
com confiança e com esperança na missão que cada um recebeu, na
família, na comunidade, na sociedade e na Igreja.
Amém!
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