Anteriormente vimos a origem e natureza do Catecismo [1]. Hoje vamos quais são suas fontes
inspiradoras. Esta abordagem ilustra e ilumina melhor a natureza e a finalidade
do Catecismocomo um dos grandes instrumentos da educação da fé.
Sendo
um texto que procura aprofundar o conteúdo da fé cristã católica, o Catecismo tem,
como referências principais, as grandes fontes do cristianismo. Na verdade,
a fonte é uma só: aPalavra de Deus, tomada em seu
sentido amplo, como ensina a constituição Dei Verbum: “ Deus se
revelou através de palavras e acontecimentos intimamente
unidos” (DV 2). Palavras: aquilo que sai da boca para comunicar
nosso pensamento e sentimentos. Acontecimentos ou fatos: é
tudo aquilo que vai além da palavra falada, do discurso, do ensino... são as
ações concretas que confirmam e dão autoridade à palavra falada.
Nesse
binômio, Palavra é tudo aquilo que os profetas (desde Abraão
até o último dos Apóstolos) pronunciaram, ensinaram, pregaram... e depois, tudo
aquilo que a Igreja ensinou e ficou, ao longo dos séculos, como riqueza de sua
doutrina. Por outro lado os acontecimentos, são os fatos concretos
que Deus realizou na história da salvação e continua realizando na nossa vida,
e que a Bíblia chama de “maravilhas”. Hoje, tais acontecimentos,
fatos ou maravilhas de Deus são as ações da Igreja,
sobretudo os sacramentos.
A Palavra por excelência que o Pai nos enviou para
comunicar-nos seu amor é Jesus Cristo, ele mesmo palavra e
acontecimento, a Quem o Novo Testamento chama de o Verbo de
Deus (verbosignifica palavra). Por isso ele é o centro e a
finalidade de toda a catequese. Diz o Bem-aventurado João Paulo II: “Ao
apresentar a doutrina católica de modo genuíno e sistemático, o Catecismoreconduz
todos os conteúdos da catequese ao seu centro vital, que é a pessoa de Cristo Senhor”.
A
doutrina da Igreja ensina que essa única Palavra de Deus, além da
pessoa divina do nosso Salvador, possui muitas outras expressões, que se
tornam, todas elas, fontes da catequese e consequentemente
do Catecismo. Ou seja:
a) As Sagradas Escrituras: Palavra de Deus
inspirada, transmitida de geração em geração e fixada nos livros sagrados.
Veneramos e temos em altíssima consideração, em primeiro lugar, essapalavra
escrita, lida pessoalmente e em comunidade, venerada, proclamada e
ouvida nas celebrações. O Catecismo é uma contínua transmissão
e aprofundamento dessa Palavra Bíblica. Contrariamente ao Catecismo
de Trento que evocava sempre os textos bíblicos para dar autoridade ou
comprovar uma doutrina apresentada, o Catecismo da Igreja Católica parte
dos próprios textos bíblicos para, em seguida, deles deduzir a doutrina
professada. Portanto, é um uso muito mais profundo e significativo! Assim, a
Bíblia é o primeiro e principal texto de catequese! E o Catecismoestá
impregnado de Bíblia!
b) A Sagrada Liturgia: é outra fonte riquíssima da
expressão da fé à qual continuamente oCatecismo se refere. Um
sentença da teologia assim diz: lex orandi, lex
credendii Numa tradução livre, significa: cremos conforme rezamos e
rezamos conforme cremos. De fato, a educação da fé sempre buscou na Liturgia o
seu alimento substancioso. É o que chamamos de dimensão
mistagógica da catequese: a participação frutuosa nas celebrações nos
coloca mais facilmente em contato com as realidades divinas que professamos. O Catecismo se
inspira muito na Liturgia, tanto ocidental como oriental.
c) A Sagrada Tradição: com o término da
revelação bíblica (ou com o ponto final noApocalipse), Deus não deixou
de nos falar. Temos, nos textos sagrados, a revelação fundante; no entanto,
através dos séculos a revelação divina prossegue; Deus se manifesta através de
tudo aquilo que a Igreja, como Corpo de Cristo no mundo e em obediência ao seu
mandato, vai refletindo, aprofundando, adaptando a expressão da fé aos vários
momentos históricos, conservando e aumentando a riqueza da fé.
Deus
se manifesta pelo sentido da fé (sensus fidei) do Povo de
Deus. O Magistério da Igreja tem o dever de guiar a Igreja na audição dessa
Palavra de Deus que se manifesta nesses sentido da fé do Povo
de Deus. Faz parte desse Magistério os que receberam o carisma de orientar a
Igreja à luz da Palavra de Deus, nossos pastores, tendo à frente o Papa com
todo o episcopado.
Tudo
isso recebe o nome de Tradição eclesial, e é composta pela vida
dos santos, a doutrina dos Concílios, o ensinamento dos mestres da fé,
sobretudo o magistério eclesial, a riqueza da Liturgia, a vivência religiosa do
povo com suas expressões (religiosidade popular).
Nesse
aspecto também, o Catecismo é muito rico. Ele expõe não só
aquilo que chamamos de doutrina da fé, mas também é perpassado
continuamente pelo testemunho dos Santos, dos Padres da Igreja (grandes
escritores do início do cristianismo), dos mestres da fé (teólogos e
escritores) e dos textos mais expressivos da piedade cristã.
No
seu conjunto, o Catecismo representa a Tradição da
Igreja, tanto ocidental como oriental, ou seja, seu patrimônio doutrinal
inspirado nas fontes da fé, adquirido ao longo dos séculos, testemunhado pela
vida do povo cristão e confirmado pela autoridade do autêntico Magistério.
Podemos concluir com João Paulo II: “como exposição completa e integral da
verdade católica, tanto doutrinal como dos costumes, válidos sempre e para
todos, o Catecismo, com seus conteúdos essenciais e fundamentais,
permite conhecer e aprofundar, de maneira positiva e serena, aquilo que a
Igreja Católica crê, celebra, vive e reza [...]; nos faz contemplar a beleza e
a riqueza da mensagem de Cristo Jesus”.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb, é doutor
em Teologia Pastoral, catequeta, professor de teologia, conferencistas,
redator e editor da Revista de Catequese.
[1] De agora em diante, a expressão Catecismo,
se não houver outra referência, sempre significará oCatecismo da Igreja
Católica.