Dom Vilson Dias de Oliveira
DIOCESE DE LIMEIRA
Leituras:
Êxodo 12, 1-8. 11-14; Salmo responsorial 115, (116B)
12-13.15-16bc.17-18 (R/ cf. 1Cor 10,6); Primeira Carta de São Paulo
aos Coríntios 11, 23-26; e João 13, 1-15.
COR
LITÚRGICA: BRANCO
OU DOURADO
Animador:
Esta é uma noite santa e bendita, pois nela recorramos as dádivas
de Cristo para conosco: a Eucaristia, o Sacerdócio e o Mandamento
novo, o do amor. O sacerdócio e o mandamento novo são inseparáveis
da Eucaristia, pois ela encerra o ato sublime do sacrifício de
Cristo para nossa salvação. Hoje, iniciando o mistério redentor de
Cristo, deixemo-nos banhar por sua infinita misericórdia).
1.
Situando-nos
Com
a celebração da missa vespertina da Ceia do Senhor, na Quinta-feira
Santa inicia-se o Tríduo Pascal, ápice do ano litúrgico.
No
Tríduo Pascal celebramos a Páscoa de Jesus em três dimensões.
Hoje celebramos a Páscoa da Ceia. Amanhã celebraremos da Paixão.
Na Vigília Pascal e no domingo de Páscoa, celebraremos a Páscoa da
ressurreição.
“Na
Quinta-feira Santa, na Missa vespertina ‘Ceia do Senhor’ a
recordação do banquete que precedeu o êxodo ilumina, de maneira
especial, o exemplo de Cristo ao lavar os pés dos discípulos e as
palavras de Paulo sobre a instituição da Páscoa cristã na
Eucaristia” (CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO, Diretório
Homilético, n.39).
Após
a homilia. Procede-se o lava-pés que, originário da liturgia de
Jerusalém, irradiou-se para o Ocidente através da liturgia de
Bizâncio. Desde o início, o lava-pés significou hospitalidade e
serviço (cf. Gn 18,4; 1Tm 5,10). Hoje, embora o Missal Romano
considere um rito facultativo – “se razões pastorais o
aconselharem” – o lava-pés continua tendo grande valor simbólico
e, por isso mesmo, grande utilidade espiritual e pastoral (Decreto
“In Missa in Cena Domini” da Congregação para o Culto Divino e
a Disciplina dos Sacramentos que altera o rito do lava-pés.
Disponível em:
Terminada
a oração de pós Comunhão, organiza-se a procissão na qual o
Santíssimo Sacramento é levado até o lugar da reposição. “Os
fiéis sejam exortados a adorarem o Santíssimo, durante algum tempo
da noite, segundo as circunstâncias do lugar. Contudo, após a
meia-noite esta adoração seja feita sem nenhuma solenidade”
(MISSAL ROMANO, n.2).
Hoje
estamos reunidos para celebrar o sacrifício de Cristo e nos
associamos a seu imenso amor pelo mundo. Ao comer o pão e ao beber
do cálice, incorporados a Cristo e a nossos irmãos e irmãs,
cantemos com o salmista: “Que poderei retribui ao Senhor Deus por
tudo aquilo que ele fez em meu favor? Elevo o cálice da minha
salvação, invocando o nome santo do Senhor” (Sl 115/116B).
2.
Recordando a Palavra
O
Evangelho de São João, capítulo 13, não fala da instituição da
Eucaristia, como fazem os outros três Evangelhos. Em seu lugar
aparece a cena do lava-pés. No final do primeiro século da era
cristã, quando João escreveu seu Evangelho, a celebração da
Eucaristia já era prática adquirida nas comunidades cristãs.
Por
isso não se preocupa com sua instituição, mas com suas
consequências: o modo como os primeiros cristãos deviam
relacionar-se uns com os outros – no serviço, no amor e na
gratuidade. O exemplo fantástico é do próprio Jesus que lava os
pés dos discípulos. Se “eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés,
também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o
exemplo...” (v.14-15).
Consciente
de estar realizando o projeto de Deus, Jesus mostra como este projeto
se traduz em ações concretas que serão a norma da comunidade:
despoja-se do manto (sinal da dignidade do senhor) e pega o avental
(toalha: ferramenta do servo). É o Senhor que se torna servo.
Despojar-se do manto significa dar a vida sob a forma de serviço. De
fato, quem devia lavar os pés eram os escravos.
Jesus
faz tudo sozinho: derrama água, lava, enxuga. Ao retomar o manto não
se diz que Ele tenha deposto o avental e sim que Ele vestiu o manto
por cima. Isso significa que seu serviço continuará. O lava-pés de
Jesus se prolonga até a cruz e nela tem seu ponto culminante (Cf.
BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos, Paulus Editora, 2006, p.83).
Jesus
se entrega, oferece a sua vida por nossa libertação. Fazendo a
refeição junto com os seus, ensina-nos a abrir o coração no gesto
de partilha e comunhão. Comer do mesmo prato e beber do mesmo copo é
exigência para vivermos a irmandade e a fraternidade.
Jesus,
porém, vai além do comer juntos. Ao lavar os pés dos discípulos,
repete o gesto dos escravos da época. Rompe assim com o esquema
dominante do seu tempo. Pedro, que acha normal o sistema de
dominação, resiste ao gesto de Jesus, não compreendendo e não
aceitando que o Mestre lave os pés do discípulo.
Lavar
os pés é colocar-se a serviço, especialmente na construção da
paz. É ser solidário com as vítimas das guerras, da fome e da
desigualdade social. É um ato de amor. O gesto do “lava-pés”
enfatiza justamente esse amor infinito de Cristo. “O amor de Jesus
por nós tem limite, é sempre mais, sempre mais, não se cansa de
amar, a ninguém, ama todos nós, a ponto de dar a vida por nós”
(FRANCISCO, Homilia, Missa do Lava-pés, Quinta-feira Santa, 2 de
abril de 2015).
O
texto da primeira leitura (Ex 12, 1-8.11-14) é a narrativa de como
os judeus deviam celebrar a Páscoa, ao deixar o Egito. A origem
desta festa está na tradição mais antiga de Israel como povo de
pastores. Imolava-se um cordeiro e tingia-se com seu sangue a porta
da tenda para afugentar o mal que poderia acontecer ao rebanho.
Com
a libertação do Egito, esta tornou-se a festa central do povo de
Deus, o dia nacional da libertação, quando o Senhor, com mão forte
e braço estendido, libertou seu povo da escravidão. “Este dia
será para vós uma festa memorável” (Ex 12,14).
Com
relação ao rito da ceia pascal, o texto nos dá algumas indicações
importantes:
-
a Páscoa marca o início de uma nova era, o tempo da libertação. É
a vitória do povo sobre as forças opressoras;
-
para que esta nova era aconteça é preciso que haja partilha (v.4);
-
é uma festa que visa à preservação da vida: servirá e sinal para
a preservação de Israel como povo, pois ele estava ameaçado de
desaparecer pela política do Faraó;
-
é uma festa da memória histórica. É celebrada às pressas. Os que
dela participam devem estar preparados para uma longa viagem que os
levará para fora do sistema opressor e os conduzirá uma nova
sociedade baseada na justiça e na liberdade (Cf. BORTOLINI, José.
Op.,cit.p.82).
-
O Salmo 115 (116B) é um agradecimento de alguém que recebeu de Deus
uma grande graça, a graça da vida, a libertação de alguma doença.
Por isso o salmista, com muita confiança, faz um gesto público de
louvor: “elevo o cálice da minha salvação”.
A
segunda leitura (1Cor 11,23-26) apresenta a tradição paulina da
instituição da Eucaristia. As comunidades cristãs a celebravam
como memorial da Páscoa de Jesus. O contexto desta narração nos
mostra como Paulo insiste que não se trata apenas de um rito9, mas
de uma prática profunda de comunhão fraterna.
3.
Atualizando a Palavra
A
liturgia de hoje lembra três momentos fundamentais da história da
salvação:
-
Primeiro momento: a Páscoa dos judeus – jantar comemorativo da
libertação do Egito. Eles comiam o cordeiro pascal, lembrando a mão
forte do Senhor que os havia libertado (primeira leitura).
-
Segundo momento: a Páscoa de Jesus – foi a última ceia de Jesus.
Marca o início da celebração da Páscoa cristã. A missa
vespertina da Quinta-feira Santa atualiza para nós o gesto prático
que Jesus fez no Cenáculo com seus apóstolos. Primeiro, Jesus fez o
rito do jantar dos judeus, recordando a Páscoa judaica: a libertação
do Egito, a passagem do Mar Vermelho e a 1ª Aliança ao pé do Monte
Sinai.
Em
segundo lugar, nessa mesma ceia, Jesus fez a passagem para a nova
Páscoa, a nova Aliança, agora selada no seu sangue derramado e no
pão compartilhado, memória que os cristãos celebram sempre em cada
missa. João expressa essa realidade com o rito simbólico do
Lava-pés.
A
Eucaristia leva necessariamente para a prática, para o serviço.
Todo o contexto da última ceia, aponta para o martírio: corpo
doado, sangue derramado. Na Eucaristia Jesus faz a entrega de si
mesmo. Sua instituição antecipa o gesto definitivo da cruz,
realizado uma vez por todas (cf. Hb 7,27). Por isso ao missa não
renova o sacrifício, mas o traz presente, o visibiliza no
sacramento.
-
Terceiro momento: a Páscoa dos cristãos – na segunda leitura, São
Paulo narra a prática dos primeiros cristãos: reuniam-se nas casas
para fazer a memória de Jesus. O grande ensinamento desta tradição
judeu-cristã é que nós somos chamados para a caminhada da
libertação.
Marcados
pelo amor de Deus para a construirmos um povo novo, nossa vocação é
viver em comunidade, promover a paz, a justiça, a solidariedade:
viver a Páscoa de Jesus, não nos conformar com os valores deste
mundo.
O
centro da Quinta-feira Santa é a instituição da Eucaristia, do
sacerdócio cristão a serviço e o novo mandamento do amor. Neste
tripé está nosso ideal cristão, nosso sonho de um novo mundo.
-
a
instituição da Eucaristia é anúncio de salvação, fonte
inesgotável de unidade e convite à partilha dos bens. Participando
da Eucaristia nós nos tornamos “concorpóreos” e consanguíneos
de Cristo (Cirilo de Jerusalém). Se em nosso corpo corre o mesmo
sangue, ou seja, o sangue de Cristo, consequentemente somos irmãos
de sangue, chamados a viver em perfeita unidade. Se todos somos
irmãos, filhos e filhas do mesmo Pai, a mesa do mundo deve ser para
todos, sem fome, sem miséria, sem exclusões. Por que o mundo não
coloca as potencialidades enormes de riqueza que tem a serviço da
vida? Eis o convite da Eucaristia. Quem comunga sinceramente deve
querer um mundo mais partilhado;
-
o
sacerdócio cristão colocado a serviço do povo nos lembra que o
poder dever ser partilhado. Que o maior é aquele que serve. Que
nossa atitude fundamental deve ser a do lava-pés e não a buscada
desenfreada das honras, do prestígio, que acaba dominando os mais
fracos. “Se eu, que sou o Senhor e Mestre, vos lavei os pés...”.
Este gesto de Jesus nos mostra como a tão apregoada democracia, da
qual o mundo ocidental tanto fala, não é eucarística, porque não
se põe a serviço, mas concentra sempre mais;
-
o
mandamento do amor nos lembra que a atitude suprema do ser humano, a
exemplo de Cristo, é o perdão, a colhida, a solidariedade, o
empenho pela justiça, da qual vem a paz. Nunca o ódio, o revide a
violência, a guerra. “Ao entrar neste mundo, tão marcado pelas
injustiças e pelo ódio, pela segregação e perda de sentido da
vida, Jesus Cristo vem nos ensinar a amar com o amor de Deus e a
sermos felizes”.
O
gesto de lavar os pés mostra serviço e amor. “É tão forte o seu
amor [amor de Jesus] que se fez escravo para nos servir, para nos
curar, para nos purificar. Nesta Missa, a Igreja quer que o sacerdote
lave os pés de doze pessoas em memória dos doze apóstolos. Mas no
nosso coração temos que ter a certeza de que o Senhor, quando nos
lava os pés, nos lava por inteiro, nos purifica, nos faz sentir,
mais uma vez, o seu amor” (FRANCISCO, Homilia, Missa do Lava-pés,
Quinta-feira Santa, 2 de abril de 2015).
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
No
centro da liturgia eucarística repetimos e atualizamos as palavras
de São Paulo: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e
beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até
que ele venha” (1Cor 11,26).
O
mistério da fé que celebramos na Eucaristia é o mistério pascal
da morte e ressurreição do Senhor Jesus, atuante na realidade
pessoal e social. É a celebração do mistério pascal de Jesus
Cristo visibilizado na ação simbólico-ritual do ´pão e do
vinho’.
Anunciar
a morte do Senhor ”até que ele venha” implica para todos nós o
compromisso de transformar nossa vida, de tal forma que ela se torne
eucarística, sinal de comunhão.
Como
“cume e fonte”, a celebração eucarística deve nos ajudar a
discernir e expressar, na liturgia, a presença pascal de Cristo em
nossa vida pessoal, comunitária e social; e, ao mesmo tempo, deve
levar-nos a fazer de toda a nossa vida uma caminhada pascal,
comprometendo-nos com a transformação do mundo.
A
Páscoa do Êxodo se conclui com um mandato: “Este dia será para
vós uma festa memorável (...), que haveis de celebrar por todas as
gerações, como instituição perpétua” (Ex 12,14). A fidelidade
ao “Fazei isto em memória de mim”, além de manter viva a Páscoa
de Jesus em todas as gerações, sustenta a comunhão das sucessivas
gerações de cristãos com seu Mestre.
O
presidente realiza o Lava-Pés, enquanto se canta canto apropriado.
PRECES
DOS FIÉIS
Presidente:
Nesta noite em Jesus, por amor entrega-se inteiramente a nós,
deixando-nos presente na Eucaristia, elevemos nossa prece de gratidão
ao Pai.
1.
Ó Pai, obrigado pelo dom da Eucaristia, e pedimos que abençoe todos
os sacerdotes, que sejam exemplos vivos de serviço em favor da vida
plena, no mundo.
Todos:
(cantado): Vossa
Igreja eleva um clamor: "Escutai nossa prece, Senhor!
2.
Ó Pai, obrigado pelo dom da Eucaristia, e pedimos que os nossos
governantes, a exemplo do Teu Filho Jesus, possam usar de caridade
para com o povo.
3.
Ó Pai, obrigado pelo dom da Eucaristia, e pedimos que nossa
comunidade possa ser servidora da tua graça, vivendo o mandamento do
amor e promovendo a fraternidade.
4.
Ó Pai, obrigado pelo dom da Eucaristia e pedimos que as nossas
mentes e nossos corações possam celebrar de modo proveitoso esta
Páscoa.
(Outras
intenções)
Presidente:
Ó Pai querido, obrigado pelo dom da Eucaristia que teu Filho nos
deixou. Agradecemos o lava-pés, pois aprendemos a importância do
serviço fraterno. Agradecemos ainda o sacerdócio e o mandamento do
amor que celebramos, hoje. Todos são dons da tua graça e do teu
amor para conosco. Obrigado por tudo e em tua bondade atendei nossas
preces que fazemos em nome de Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
III.
LITURGIA EUCARÍSTICA
Oração
sobre as oferendas
Presidente:
Concedei-nos,
ó Deus, a graça de participar dignamente da Eucaristia pois todas
as vezes que celebramos este sacrifício em memória do vosso Filho,
torna-se presente a nossa redenção. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
Oração
depois da comunhão
Presidente:
Ó
Deus todo-poderoso, que hoje nos renovastes pela ceia do vosso Filho,
dai-nos ser eternamente saciados na ceia do seu reino. Por Cristo,
nosso Senhor.
Todos:
Amém
TRANSLADAÇÃO
DO SS. SACRAMENTO
Animador:
Celebramos hoje um adeus: uma despedida de alguém que vai para
melhor, ou seja, que vai voltar para o Pai, mas que ao mesmo tempo,
deixa uma profunda nostalgia, uma contagiante saudade, sobretudo, por
causa do modo como esta despedida será levada a efeito, na noite
seguinte.
Celebramos
a Instituição da Eucaristia e do Mandamento do Amor, amor sem
limites e com grande intensidade. Alegria misturada com dor, alegria
em tom menor, misturada com lágrimas sendo considerada uma alegria
inibida. Até a meia noite de hoje e durante a parte da manhã de
amanhã voltaremos aqui para uma breve adoração e para refletirmos
sobre o sentido da morte e ressurreição do Senhor!
Canto
de procissão
(Enquanto
se incensa o Santíssimo Sacramento)
Onde
não se conserva a Eucaristia, a celebração termina sem canto e sem
bênção final. Onde se conserva a Eucaristia, deve-se realizar a
procissão até um altar previamente preparado para a vigília.
Enquanto isso, canta-se:
Tão
sublime Sacramento
1.
Tão Sublime Sacramento, adoremos neste altar. Pois o Antigo
Testamento deu ao Novo o seu lugar. Venha a fé por suplemento os
sentidos completar.
2.
Ao Eterno Pai cantemos e a Jesus, o Salvador. Ao Espírito exaltemos,
na Trindade, eterno amor. Ao Deus Uno e Trino demos a alegria do
louvor. Amém.
Amém!
Desnudação
do altar
Retiram-se
as toalhas do altar, as flores, as velas e as cruzes (onde for
possível). Todos se retiram em silêncio. A adoração ao Santíssimo
pode terminar à meia-noite, a partir de quando se dá início à
recordação da Paixão e Morte de Jesus, ou segundo o costume do
lugar. Esse momento deve ser realizado em clima de muita oração,
silêncio e respeito, com cantos que favoreçam a interiorização e
a contemplação.
(O
Presidente e os acólitos retiram-se em silêncio).