Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
A
Igreja Católica se prepara para a XV Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos, cujo tema a ser tratado será: “Os jovens, a fé
e o discernimento vocacional”. Espera-se que este Sínodo
chegue a um consenso, o qual contenha medidas visando a orientá-los
no discernimento sobre sua fé e sobre perspectivas para seu futuro.
Que o acompanhamento eclesiástico ajude-os na escolha certa,
alcançando, assim, a felicidade em tudo aquilo que fizerem de acordo
com a vontade de Deus, para ajuda ao próximo, em busca de uma
sociedade melhor. Que as decisões tomadas nesse Sínodo auxiliem os
jovens a discernir de que forma é possível uma vida toda de serviço
ao outro, uma vez que nisso consiste a vida cristã.
Vocação,
do latim vocare, significa chamar. Cada pessoa recebe esse chamado de
Deus em um momento específico de sua vida. Não se conhece esse
momento. Para alguns ele é logo na infância, mas para outros é já
na maturidade. Não existem fórmulas onde estão escritos os
procedimentos necessários para se descobrir a vocação que Deus
determinou a cada um; justamente por isso muitos sentem dificuldades
em descobri-la sozinhos. Porém, um caminho de oração e
acompanhamento ajuda no esclarecimento dessa dúvida que permeia a
juventude. O objetivo do Santo Padre, o Papa Francisco, ao convocar
esse Sínodo, é encontrar uma maneira para que os jovens tenham cada
vez mais conhecimento sobre a vida na Igreja e da Igreja, que tenham
força, vontade e coragem de seguir o chamado de Deus, mesmo nesse
momento do mundo muitas vezes tão hostil, agressivo e desumano.
São
Francisco de Assis, após sentir o chamado de Deus, rezava uma
pequena oração diante do Crucifixo de São Damião, na qual ele
dizia: “Ó glorioso Deus altíssimo, iluminai as trevas do meu
coração, concedei-me uma fé verdadeira, uma esperança firme e um
amor perfeito. Dai-me, Senhor, o reto sentir e conhecer, a fim de que
eu possa cumprir o sagrado encargo que na verdade acabais de dar-me.
Amém”. Esta simples e singela oração mostra a inteira entrega
desse santo à vontade de Deus. A exemplo de São Francisco, somos
também convocados a seguir a Cristo e servir aos irmãos em nossa
vocação, nos entregando inteiramente na missão que nosso Deus nos
incumbiu.
Podemos
observar ao nosso redor, no dia-a-dia, que as pessoas estão sempre
sem tempo, correndo, esquecendo os verdadeiros valores. Valores estes
que, diariamente, são substituídos pelos que destroem a família, a
vida, a bioética, a moral e a ética. Mas, o que isso tem a ver com
vocação? Todo cristão católico é chamado a ser missionário no
ambiente em que vive. Seja no trabalho, na escola, na família, onde
for. É necessário um testemunho de vida para as pessoas. “Pregue
o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras” dizia o já
citado São Francisco. Todos também são convocados a denunciar as
mazelas e injustiças do mundo, lutando para que a verdade seja
soberana e que a dignidade de todos seja garantida.
A
era da tecnologia e informação tem, sem dúvida, ajudado muito as
pessoas na atualidade, contudo ela também tem afastado as pessoas e
dissipado o individualismo. O sociólogo polonês Zymount Bauman, em
sua obra “Modernidade Liquida”, aborda exatamente esse
afrouxamento dos laços interpessoais. A tecnologia, com seu
desenvolvimento, tem cada vez mais atraído as pessoas. Essa atração
é perigosa, uma vez que pode ser sadia se for moderada, mas caso não
seja policiada pode tornar-se um vício. Um relato de um pai que está
circulando na internet diz que, durante a infância de sua filha, ela
estava descobrindo o mundo e suas belezas. Sempre que conseguia fazer
alguma coisa nova chamava o pai, para que ele pudesse ver. Porém,
ele nunca tinha tempo. Um dia, ela se posicionou embaixo do celular
do pai e disse que aquele era o único modo de ele olhar para ela,
estando atrás do celular em que o pai estava digitando. Precisa-se
de um policiamento coletivo, visando à prevenção, para que não
seja necessário chegar a tal ponto.
Para
se realizar as missões anexas a cada vocação, é necessária a fé,
o outro ponto tratado no Sínodo. “Sem fé é impossível agradar a
Deus” (Hb 11,6), e partindo desse princípio, possui-se plena
convicção que esse Dom de Deus é essencial para nossa vida. A fé
que professamos não pode ser vivida apenas no momento da Santa
Missa. Como é triste ver que muitos passam da porta da Igreja depois
da missa e parece que não entenderam nada da mensagem de Deus! Uma
pequena estorinha de autor desconhecido diz que um padre certa vez
percebeu que uma criança sempre ouvia sua homilia tampando um dos
ouvidos com uma mão. Curioso, o padre, após a missa, foi até a
criança e perguntou-lhe o porquê do gesto. A criança respondeu que
durante toda a semana os seus pais brigavam, e sempre um deles dizia
ao que estava errado que tudo o que foi dito na homilia entrou por um
ouvido e saiu pelo outro, como diz no ditado popular, e por conta
disso ela tampava o ouvido para que tudo o que fosse dito não
conseguisse sair. Esta deve ser a nossa atitude. Esta criança da
estória, em sua ingenuidade, nos mostra de uma forma bem impactante
uma realidade que muitas vezes nem se percebe fazer parte. Temos que
buscar sempre um maior aprofundamento de nossa fé. Assim como um
carro necessita do combustível para se manter em movimento, é
necessária a fé para manter o homem em seu propósito.
O
Sínodo tratará desse assunto que é muito pertinente na Santa
Igreja Católica. Faz parte dos assuntos que realmente precisam ser
debatidos, pois os jovens estão inseridos em uma sociedade que lhes
fornece respostas erradas, nas quais os principais valores de sua fé
são tidos como sem importância e ultrapassados, e valores como a
cultura da violência e da morte são tidos como positivos e
naturais. Os bispos, que serão eleitos pelas Conferências
Episcopais para representá-las no Sínodo dos Jovens, reunidos terão
a árdua tarefa de debater e encontrar soluções para estas
problemáticas apresentadas. Convivendo e evangelizando os jovens, os
Bispos deverão procurar escutar seus jovens para sentir as suas
angústias e pavimentar esperanças para a sua devida evangelização.
É de extrema importância toda a oração do povo de Deus para que,
através desse clamor, seus pastores, guiados pelo Espírito Santo,
consigam as respostas.
Que
o próximo Sínodo sobre os Jovens nos ajude a transmitir a nossa fé
e testemunhar o Ressuscitado, que está no meio de nós!